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Escravidão em África

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Transporte de escravos na África. Gravura de 1890.

O estudo do processo de escravização dos povos africanos é essencial para que se compreenda a situação atual de desigualdade no planeta. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas. Demonstra também que a desestruturação econômica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração.

Do ponto de vista econômico, a escravidão foi uma forma eficiente de acumulação primitiva. No que diz respeito às pessoas foi uma violência irreparável, que pressupõe, dentre outros fatores, a existência de povos muito pobres, mão-de-obra excedente que possa ser explorada em benefício de outros, poucos. Assim, parte do atual contexto socio-econômico da África de miséria e exclusão, é consequência de fatos passados.

Escravidão na África: uma antiga forma de exploração

A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com europeus na costa atlântica.

Desde por volta de 700 d.C., “prisioneiros capturados nas guerras santas que expandiram o Islã da Arábia pelo norte da África e através da região do Golfo Pérsico” eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado .

Lovejoy[1] apresenta o conceito de modo de produção escravista (de E. Terray) como fundamental para uma compreensão mais completa do funcionamento político, econômico e social da África - e também das colônias portuguesas nas Américas. Segundo sua definição, o modo de produção baseado na escravidão é aquele em que predominam a mão-de-obra escrava em setores essenciais da economia; a condição de escravo no mais baixo nível da hierarquia social; e a consolidação de uma infra-estrutura política e comercial que garanta a manutenção desse tipo de exploração.

A escravização do negro pelo negro e a herança de miséria e fome

Muitas tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus. De fato, este foi um dos elementos chaves responsável pela mercantilização dos povos africanos.

Os povos mais frágeis eram capturados pelos chefes das tribos e trocados com os europeus por mercadorias. Basicamente os conflitos tribais na África alimentavam o tráfico, assim como até hoje, conflitos internos aliados à corrupção de governantes locais, ainda são responsáveis por todo um contexto de miséria existente no continente africano.

Guerras civis entre forças revolucionárias e governos corruptos na África, fizeram uma quantidade enorme de vítimas, onde os mais fracos são os que pagam com a própria existência. A baixa industrialização do continente e o conflito de interesses entre liberais e a esquerda, protelam, atualmente, uma solução econômica e social viável para o povo africano.[2]

Atualmente, epidemias de AIDS grassam no continente, muitas vezes ancoradas por dogmas e culturas nocivas e machistas dos povos locais, como a crença de que, ao manter relação com 100 virgens, um soropositivo ficará curado de sua infecção, o que apenas propaga ainda mais a doença. Os problemas do grande continente africano atualmente extrapolaram a barreira continental. Muitos emigram para a Europa, onde são recebidos com indiferença pelos europeus nativos, gerando sérios problemas culturais de adaptação, tanto para os nativos quanto para os africanos.

Ver também

  • MONTEIRO e ROCHA, Fernando Amaro ao século XIX. O testemunho dos manuscritos, impérios subsaharianos, pp 15–50.
  • SILVA, Alberto da Costa – Os estudos de história da África e sua importância para o Brasil, A dimensão atlântica da África, II Reunião Internacional de História da África, São Paulo, CEA-USP/SDG-Marinha/CAPES, 1997, pp 203–219.
  • A manila e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002, *Cap. 9, O Benin e o delta do Níger, pp 309–357; *Cap. 11, Angola, pp 407–450; *Cap. 18, Na Zambézia, pp 657–701.
  • Francisco Félix de Souza, mercador de escravos, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: EdUERJ, 2004, *Cap. 2 a 6, pp 19–70.
  • SOUMONNI, Elisée – *A compatibilidade entre o tráfico de escravos e o comércio do dendê no Daomé, 1818-1858, Daomé e o mundo atlântico, Rio de Janeiro, UCAM (Universidade Cândido Mendes), CEAA (Centro de Estudos Afro-Asiáticos) e Amsterdam, SEPHIS (South-South Exchange Programme for Research on the History of Development), 2001, pp 61–79.
  • FERREIRA, Roquinaldo – Dinâmica do comércio intracolonial: geribitas, panos asiáticos e guerras no tráfico angolano de escravos (século XVIII), O antigo regime nos trópicos. A dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII), organizadores João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, Cap 11, pp 339–378.
  • DIAS, Jill R. - O Kabuku Kambilu (c.1850-1900): uma identidade política ambígua, Actas do Seminário Encontro de Povos e Culturas em Angola, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, pp 13–53.
  • National Geographic Brasil. Edição especial. Setembro 2005 – África, Pigmeus de Ituri, Expedição Megaflyover, Nairóbi, Aids, Animais ameaçados.
  1. LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África. Uma história e suas transformações, tradução Regina Bhering e Luiz Guilherme Chaves, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002; cap. 1 - "A África e a escravidão", pp 29-56; cap 12 - "A escravidão na economia política da África", pp 395-411.
  2. [Fome ameaça 38 milhões de pessoas na África, diz ONU http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2002/021204_fomeebc.shtml BBC Brasil, 4 de dezembro, 2002 ]