Satélites de Júpiter
Júpiter possui 63 satélites confirmados, o maior número "seguro" de satélites entre os oito planetas do Sistema Solar.[1] Os quatro satélites mais massivos, os satélites de Galileu, foram descobertos em 1610 por Galileu Galilei, e foram os primeiros objetos descobertos pela humanidade em órbita de outro corpo que não a Terra ou o Sol. Desde o final do século XX, vários satélites menores foram descobertos, todos recebendo nomes de amantes, conquistas ou filhas do Deus romano Júpiter, ou do equivalente grego, Zeus. Vários destes satélites foram descobertos no início do século XXI, sendo que, em 15 de Maio de 2003, Scott Sheppard publicou no jornal Nature a descoberta de 23 novos satélites naturais de Júpiter, tendo aumentando o total de satélites então conhecidos para 61. Porém, apesar do grande número de satélites, os quatro satélites de Galileu são facilmente os maiores satélites em órbita do planeta, com os outros 59 satélites, mais os anéis de Júpiter, sendo responsáveis por apenas 0,003% da massa em torno do planeta.
Oito dos satélites de Júpiter são "regulares", com órbitas prógradas e quase circulares, de baixa inclinação em respeito ao plano equatorial de Júpiter. Os satélites de Galileu estão em equilíbrio hidrostático, e seriam considerados planetas anões se estivessem em órbita em torno do Sol. Os outros quatro satélites regulares são muito menores e mais próximos do planeta, e servem como fonte de poeira dos anéis jupiterianos.
Os outros 55 satélites de Júpiter são "irregulares", cujas órbitas, prógradas ou retrógradas, estão significantemente mais longe do planeta, e possuem maiores inclinações e excentricidades orbitais. Estes satélites eram provavelmente corpos menores que foram capturados pelo planeta. Outros 13 satélites recentemente descobertos que nao foram nomeados, mais um 14o, cuja órbita não foi ainda estabelecida.
Características
As características físicas dos satélites de Júpiter variam significantemente. Os quatro satélites de Galileu todos possem mais de 3 000 km de diâmetro. O maior satélite do planeta, Ganímedes, é o maior satélite natural do Sistema Solar, bem como o maior (tanto em tamanho quanto em massa) depois dos oito planetas, sendo maior em diâmetro do que Mercúrio.[2] Todos os outros satélites de Júpiter possuem menos de 250 km de diâmetro, com a maioria ligeiramente ultrapassando a marca de 5 km. Os formatos das órbitas dos satélites variam de círculos quase perfeitos e poucos incliniados a elipses altamente excêntricas e inclinadas, com vários satélites orbitando na direção oposta do sentido de rotação do planeta. O período orbital dos satélites jupiterianos varia entre sete horas (ou seja, menos do que o período de rotação do planeta) a períodos 3 000 vezes mais longos (ou seja, quase três anos terrestres).
Origem e evolução
Acredita-se que os satélites regulares de Júpiter tenham sido formados através de um disco circumplanetário, este sendo um disco de gás e poeira em acreção, um processo análogo ao de um disco protoplanetário.[3][4] Os satélites podem ser os remanescentes de um número de satélites similares que formaram-se no início da história do planeta.[3][5]
Simulações sugerem que, embora o disco tenha possuído uma massa relativamente baixa, que ao longo do tempo uma fração substancial (na ordem de várias dezenas de %) da massa de Júpiter capturada da nebulosa solar foi processado pelos satélites em formação. Porém, para explicar a origem dos atuais satélites regulares, um disco contendo uma massa de apenas 2% a de Júpiter é necessária.[3] Visto assim, é provável que várias gerações de satélites contendo massas similares aos dos atuais satélites de Galileu tenham existido anteriomente. Cada geração de satélites teria impactado com o planeta, devido à fricção com o disco, e com novos satélites formando-se através de material recém-capturado pelo planeta, proveniente da nebulosa solar.[3] Quando a atual geração (possivelmente a quinta) formou-se, a densidade do disco teria diminuido de tal forma que não teria interferido significantemente com as órbitas dos satélites.[5] Mesmo assim, os satélites de Galileu foram afetados pelo disco, com a distância dos satélites e Júpiter diminuido. Tais satélites foram protegidos parcialmente por uma ressonância orbital, que ainda existe no presente (de 4:2:1) entre Io, Europa e Ganímedes. A massa maior de Ganímedes, relativo aos outros satélites, significaria que o primeiro teria migrado em direção ao planeta mais rapidamente do que Europa ou Io.[3]
Acredita-se que os satélites exteriores, irregulares, tenham sido asteroides que foram capturados por Júpiter durante o período no qual o disco deste ainda era densa e massiva o suficiente para absorver uma parcela significante do momento destes asteroides, o suficiente para capturá-las em órbitas em torno do planeta. Vários partiram-se devido ao estresse sofrido durante a captura, ou posteriomente, em colisões com outros corpos pequenos, produzindo as famílias de satélites atuais.[6]
História
Em 1609, Galileu Galilei, com o uso do recém inventado telescópio, descobriu os primeiros satélites naturais do Sistema Solar, que ficaram conhecidos como Luas de Galileu ou satélites galileanos de Júpiter: Io, Calisto, Europa e Ganímedes.[7] Com o uso de lentes mais potentes foi descoberto um quinto satélite, Amaltéia, 281 anos depois, em 1892. Depois foram descobertos mais satélites de Júpiter: Himalia (1904), Elara (1904), Pasife (1908), Sinope (1914), Lisitéia (1948), Carme (1938), Ananke (1951) e Leda em 1974. A missão Voyager descobriu mais satélites, que até hoje são descobertos analisando melhor as fotografias da missão. A missão Galileo tirou fotografias mais detalhadas dos satélites.
As luas de Júpiter
Nome |
Diâmetro (km) | Massa (kg) | Raio orbital (km) | Período orbital (d) | Inclinação (°)(em relação ao equador de Júpiter) | Excentricidade | Grupo | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Métis | 43 | 1.2E+17 | 127 690(1) | 0.294780(2) | 0.000° | 0.0012 | Amaltéia | |
Adrasteia | 26×20×16 | 7.5E+15 | 128 690(1) | 0.29826(2) | 0.000° | 0.0018 | Amaltéia | |
Amaltéia | 262×146×134 | 2.1E+18 | 181 170(1) | 0.49817905(2) | 0.360° | 0.0031 | Amaltéia | |
Tebe | 110×90 | 1.5E+18 | 221 700(1) | 0.6745(2) | 0.901° | 0.0177 | Amaltéia | |
Io | 3660.0×3637.4×3630.6 | 8.9E+22 | 421 700(1) | 1.769137786(2) | 0.050° | 0.0041 | Galileu | |
Europa | 3121.6 | 4.8E+22 | 671 034(1) | 3.551181041(2) | 0.471° | 0.0094 | Galileu | |
Ganímedes | 5262.4 | 1.5E+23 | 1 070 412(1) | 7.15455296(2) | 0.204° | 0.0011 | Galileu | |
Calisto ou Calixto | 4820.6 | 1.1E+23 | 1 882 709(1) | 16.6890184(2) | 0.205° | 0.0074 | Galileu | |
Temisto | 8 | 6.9E+14 | 7 391 645 | 129.827611 | 15.346° | 0.2006 | Temisto | |
Leda | 20 | 1.1E+16 | 11 097 245 | 238.824159 | 27.210° | 0.1854 | Himalia | |
Himalia | 170 | 6.7E+18 | 11 432 435 | 249.726305 | 29.590° | 0.1443 | Himalia | |
Lisiteia | 36 | 6.3E+16 | 11 653 225 | 256.995413 | 25.771° | 0.1132 | Himalia | |
Elara | 86 | 8.7E+17 | 11 683 115 | 257.984888 | 30.663° | 0.1723 | Himalia | |
S/2000 J 11 | 4 | 9.0E+13 | 12 570 575 | 287.931046 | 26.169° | 0.2058 | Himalia | |
Carpo | 3 | 4.5E+13 | 17 144 875 | 458.624818 | 55.098° | 0.2736 | ? | |
S/2003 J 12 | 1 | 1.5E+12 | 17 739 540 | 482.691255 | 134.861° | 0.4449 | ? | |
Euporia | 2 | 1.5E+13 | 19 088 435 | 538.779839 | 131.854° | 0.0960 | Ananke? | |
S/2003 J 3 | 2 | 1.5E+13 | 19 621 780 | 561.517739 | 111.592° | 0.2507 | Ananke? | |
S/2003 J 18 | 2 | 1.5E+13 | 19 812 575 | 569.728015 | 98.461° | 0.1570 | Ananke? | |
Telxinoe ou Telxinoi | 2 | 1.5E+13 | 20 453 755 | 597.606695 | 102.844° | 0.2685 | Ananke? | |
Euante | 3 | 4.5E+13 | 20 464 855 | 598.093368 | 123.649° | 0.2000 | Ananke | |
Helique | 4 | 9.0E+13 | 20 540 265 | 601.401918 | 120.908° | 0.1375 | Ananke? | |
Ortósia | 2 | 1.5E+13 | 20 567 970 | 602.619143 | 101.861° | 0.2433 | Ananke? | |
Iocasta | 5 | 1.9E+14 | 20 722 565 | 609.426611 | 127.043° | 0.2874 | Ananke | |
S/2003 J 16 | 2 | 1.5E+13 | 20 743 780 | 610.362159 | 149.279° | 0.3185 | Ananke? | |
Ananque ou Ananke | 28 | 3.0E+16 | 20 815 225 | 613.518491 | 149.526° | 0.3963 | Ananke? | |
Praxidique | 7 | 4.3E+14 | 20 823 950 | 613.904099 | 132.099° | 0.1840 | Ananke? | |
Harpalique | 4 | 1.2E+14 | 21 063 815 | 624.541797 | 143.944° | 0.2441 | Ananke? | |
Hermipe | 4 | 9.0E+13 | 21 182 085 | 629.809040 | 149.058° | 0.2290 | Ananke? | |
Tione | 4 | 9.0E+13 | 21 405 570 | 639.802554 | 116.088° | 0.2526 | Ananke | |
Mneme | 2 | 1.5E+13 | 21 427 110 | 640.768660 | 147.647° | 0.2214 | Ananke | |
S/2003 J 17 | 2 | 1.5E+13 | 22 134 305 | 672.751882 | 139.842° | 0.2379 | Carme | |
Aitne | 3 | 4.5E+13 | 22 285 160 | 679.641347 | 143.251° | 0.3927 | Carme | |
Cale | 2 | 1.5E+13 | 22 409 210 | 685.323873 | 133.342° | 0.2011 | Carme | |
Taigete | 5 | 1.6E+14 | 22 438 650 | 686.674715 | 140.521° | 0.3678 | Carme | |
S/2003 J 19 | 2 | 1.5E+13 | 22 709 060 | 699.124764 | 140.956° | 0.1961 | Carme | |
Caldene | 4 | 7.5E+13 | 22 713 445 | 699.326904 | 119.572° | 0.2916 | Carme | |
S/2003 J 15 | 2 | 1.5E+13 | 22 721 000 | 699.676116 | 109.168° | 0.0932 | Ananke? | |
S/2003 J 10 | 2 | 1.5E+13 | 22 730 815 | 700.129403 | 115.021° | 0.3438 | Carme? | |
S/2003 J 23 | 2 | 1.5E+13 | 22 739 655 | 700.537990 | 137.576° | 0.3931 | Pasife | |
Erinome | 3 | 4.5E+13 | 22 986 265 | 711.964625 | 143.354° | 0.2552 | Carme | |
Aoede | 4 | 9.0E+13 | 23 044 175 | 714.656754 | 112.763° | 0.6012 | Pasife | |
Calicore | 2 | 1.5E+13 | 23 111 825 | 717.806112 | 141.240° | 0.2042 | Carme? | |
Calique | 5 | 1.9E+14 | 23 180 775 | 721.020662 | 137.125° | 0.2140 | Carme | |
Euridome | 3 | 4.5E+13 | 23 230 860 | 723.358859 | 143.033° | 0.3770 | Pasife? | |
Coré | 2 | 1.5E+13 | 23 238 595 | 723.720459 | 138.885° | 0.2462 | Pasife | |
Pasite | 2 | 1.5E+13 | 23 307 320 | 726.932963 | 144.112° | 0.3289 | Carme | |
Cilene | 2 | 1.5E+13 | 23 396 270 | 731.098603 | 115.507° | 0.4116 | Pasife | |
Euquelade | 4 | 9.0E+13 | 23 483 695 | 735.199980 | 118.384° | 0.2829 | Carme | |
S/2003 J 4 | 2 | 1.5E+13 | 23 570 790 | 739.293961 | 98.660° | 0.3003 | Pasife | |
Hegemone | 3 | 4.5E+13 | 23 702 510 | 745.500007 | 150.314° | 0.4077 | Pasife | |
Arque | 3 | 4.5E+13 | 23 717 050 | 746.185469 | 146.289° | 0.1492 | Carme | |
Carme | 46 | 1.3E+17 | 23 734 465 | 747.008062 | 120.659° | 0.3122 | Carme | |
Isonoe | 4 | 7.5E+13 | 23 832 630 | 751.646937 | 118.554° | 0.1665 | Carme | |
S/2003 J 9 | 1 | 1.5E+12 | 23 857 810 | 752.838751 | 135.452° | 0.2762 | Carme | |
S/2003 J 5 | 4 | 9.0E+13 | 23 973 925 | 758.341296 | 117.922° | 0.3071 | Carme | |
Pasife ou Pasifeia | 60 | 3.0E+17 | 24 094 770 | 764.082032 | 143.037° | 0.2953 | Pasife | |
Sinope | 38 | 7.5E+16 | 24 214 390 | 769.779665 | 146.657° | 0.2468 | Pasife | |
Esponde | 2 | 1.5E+13 | 24 252 625 | 771.603566 | 112.409° | 0.4432 | Pasife | |
Autonoe | 4 | 9.0E+13 | 24 264 445 | 772.167762 | 129.073° | 0.3690 | Pasife | |
Caliroe | 9 | 8.7E+14 | 24 356 030 | 776.543335 | 131.895° | 0.2644 | Pasife | |
Megaclite | 5 | 2.1E+14 | 24 687 240 | 792.436947 | 143.760° | 0.3078 | Pasife | |
S/2003 J 2 | 2 | 1.5E+13 | 30 290 845 | 1077.018006 | 151.523° | 0.1882 | ? |
- ↑ «Solar System Bodies». JPL/NASA. Consultado em 9 de setembro de 2008
- ↑ «Ganymede». nineplanets.org. 31 de outubro de 1997. Consultado em 27 de fevereiro de 2008
- ↑ a b c d e Canup, Robert M.; Ward, William R. (2009). «Origin of Europa and the Galilean Satellites». Europa. [S.l.]: University of Arizona Press (in press)
- ↑ Alibert, Y.; Mousis, O. and Benz, W. (2005). «Modeling the Jovian subnebula I. Thermodynamic conditions and migration of proto-satellites». Astronomy & Astrophysics. 439: 1205–13. doi:10.1051/0004-6361:20052841
- ↑ a b Chown, Marcus (7 de março de 2009). «Cannibalistic Jupiter ate its early moons». New Scientist. Consultado em 18 de março de 2009
- ↑ Jewitt, David; Haghighipour, Nader (2007). «Irregular Satellites of the Planets: Products of Capture in the Early Solar System» (pdf). Annual Review of Astronomy and Astrophysics. 45: 261–95. doi:10.1146/annurev.astro.44.051905.092459
- ↑ Galilei, G (1987). A Mensagem das Estrelas. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins. pp. 56–72