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Escravidão em África: diferenças entre revisões

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O estudo do processo de '''[[escravização]] dos [[povos africanos]]''' é essencial para que se compreenda a situação atual de [[desigualdade]] no [[planeta]]. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas. Demonstra também que a desestruturação econômica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração.


O estudo do processo de '''[[escravização]] dos [[povos africanos]]''' é essencial para que se compreenda a história atual de [[desigualdade]] no [[planeta]]. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas, embora por vezes num grau de civilização inferior. Demonstra também que a desestruturação econômica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração.
Do ponto de vista econômico, a [[escravidão]] foi uma forma eficiente de [[acumulação primitiva]]. No que diz respeito às pessoas, foi uma violência irreparável, que pressupõe, dentre outros fatores, a existência de povos muito pobres, mão de obra excedente que possa ser explorada em benefício de uma minoria. Assim, parte do atual contexto socioeconômico da [[África]] de miséria e exclusão é consequência de fatos passados.

Do ponto de vista econômico, a [[escravidão]] foi uma forma eficiente de [[acumulação primitiva]]. Parte do atual contexto socioeconômico da [[África]] de miséria e exclusão é consequência de fatos passados. Muitos analistas comparavam a escravidão africana em menor escala associada a servidão linhageira com as economias orientais.<ref>[[Karl August Wittfogel|WITTFOGEL, Karl A]] Despotismo oriental: estudio comparativo del poder totalitario. Madrid: Guadarrama, c1966. 582p</ref> A escravatura na África contemporânea ainda é praticada, apesar de ilegal. <ref>{{Citar web|ultimo=Bederman|primeiro=Diane W.|url=https://www.huffingtonpost.ca/diane-bederman/slavery-africa_b_3975881.html|titulo=Slavery in Africa Is Alive, Well and Ignored|data=2013-10-18|publicado=Huffington Post (Canadá)|lingua=en}}</ref>


== Escravidão na África: uma antiga forma de exploração ==
== Escravidão na África: uma antiga forma de exploração ==
A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com os [[europeus]] na costa atlântica.<ref>{{citar periódico|título=The Business of Slaving: Pawnship in Western Africa, c. 1600–1810|periódico=The Journal of African History|ano=2001|volume=42|número=1|páginas=67–89|autor =Paul E. Lovejoy and David Richardson}}</ref><ref name="Brasil escola">CARVALHO, Leandro. "Escravidão na África"; Brasil Escola. Disponível em: [https://brasilescola.uol.com.br/historiab/escravidao-na-Africa.htm]. Acesso em 09 de março de 2021.</ref>
[[File:African slave trade.png|thumb| Principais rotas de escravos no fim da [[Idade Média]]]]
A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com europeus na costa atlântica.<ref name="Lovejoy and Richardson">{{cite journal|title=The Business of Slaving: Pawnship in Western Africa, c. 1600–1810|journal=The Journal of African History|year=2001|volume=42|issue=1|pages=67–89|author=Paul E. Lovejoy and David Richardson}}</ref>


Desde por volta de 700, "prisioneiros capturados nas guerras santas que expandiram o [[Islã]] da [[Arábia]] pelo [[norte da África]] e através da região do [[Golfo Pérsico]]" eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado.<ref name="Eoahac">{{cite book|last=Willie F. Page|first=Facts on File, Inc.|title=Encyclopedia of African history and culture: African kingdoms (500 to 1500), Volume 2|year=2001|publisher=Facts on File|isbn=0816044724|page=239|url=http://books.google.com/books?id=gK1aAAAAYAAJ}}</ref>
Desde por volta de 700, prisioneiros capturados nas guerras que expandiram o [[Islã]] da [[Arábia]] pelo [[norte da África]] e através da região do [[Golfo Pérsico]] eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado.


Lovejoy apresenta o conceito de [[modo de produção escravista]] (de E. Terray) como fundamental para uma compreensão mais completa do funcionamento político, econômico e social da África<ref name=lovejoy>LOVEJOY, Paul E. ''A escravidão na África. Uma história e suas transformações'', tradução Regina Bhering e Luiz Guilherme Chaves, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002; cap. 1 - "A África e a escravidão", pp 29-56; cap 12 - "A escravidão na economia política da África", pp 395-411.</ref> - e também das colônias portuguesas nas Américas. Segundo sua definição, o modo de produção baseado na escravidão é aquele em que predominam a mão de obra escrava em setores essenciais da economia; a condição de escravo no mais baixo nível da hierarquia social; e a consolidação de uma infraestrutura política e comercial que garanta a manutenção desse tipo de exploração.<ref name=lovejoy/>
O histoiriador canadiano [[Paul Lovejoy]] apresenta o conceito de [[modo de produção escravista]] (de E. Terray {{Quem}}) como fundamental para uma compreensão mais completa do funcionamento político, econômico e social da África<ref name=lovejoy>LOVEJOY, Paul E. ''A escravidão na África. Uma história e suas transformações'', tradução Regina Bhering e Luiz Guilherme Chaves, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002; cap. 1 - "A África e a escravidão", pp 29-56; cap 12 - "A escravidão na economia política da África", pp 395-411.</ref> - e também das colônias nas Américas. Segundo sua definição, o modo de produção baseado na escravidão é aquele em que predominam a mão de obra escrava em setores essenciais da economia; a condição de escravo no mais baixo nível da hierarquia social; e a consolidação de uma infraestrutura política e comercial que garanta a manutenção desse tipo de exploração.<ref name=lovejoy/>
==Formas de escravidão==
{{Quote box
|quote = "Desde os tempos mais antigos, alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos e inferiores. A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenação por transgressão e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. [...] A escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico."
|source = SOUZA, 2006, p. 47 apud MOCELLIN; CARMARGO, 2010, p. 174.{{sup|(Referência insuficiente)}}
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}}


Múltiplas formas de [[escravidão]] e servidão involuntária existiram na história africana e foram formadas pelas práticas nativas de escravidão assim como a [[Escravidão na Roma Antiga|instituição de escravidão romana]] <ref>{{Citation|último=Stilwell|primeiro=Sean|titulo=Slavery in African History|publicacao=Slavery and Slaving in African History|ano=2013|páginas=29–59|local=Cambridge|publicado=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9781139034999.003|isbn=978-1-139-03499-9}}</ref> (e depois a visão cristã sobre a escravidão), a [[Escravismo e Islã|visão islâmica da escravidão]] por meio do Tráfico de Escravos Islâmico e por último o [[tráfico de escravos do Atlântico]] para as Américas.<ref>{{Cite document|titulo=Slavery, Slave Trade|doi=10.1163/1878-9781_ejiw_com_000524}}</ref><ref name=":3">{{citar livro|título=Transformations of Slavery: A History of Slavery in Africa|ultimo=Lovejoy|primeiro=Paul|editora=Cambridge University Press.|ano=2012}}</ref> A escravidão foi parte da estrutura econômica por muitos séculos, ainda que a extensão variasse.<ref>{{citar periódico|último1=Painter|primeiro1=Nell Irvin|último2=Berlin|primeiro2=Ira|data=2000|titulo=Many Thousands Gone: The First Two Centuries of Slavery in North America|periódico=African American Review|volume=34|número=3|páginas=515|doi=10.2307/2901390|jstor=2901390|issn=1062-4783}}</ref> <ref name=":3">{{citar livro|título=Transformations of Slavery: A History of Slavery in Africa|ultimo=Lovejoy|primeiro=Paul|editora=Cambridge University Press.|ano=2012}}</ref> [[Ibne Batuta|Ibne Batuta,]] que visitou o antigo [[Império do Mali]] em meados do {{séc|XIV}}, descreve que os habitantes locais viam uns aos outros de acordo com o número de escravos e servos que tinham, e ele mesmo ganhou um garoto escravo como um "presente de hospitalidade."<ref>Noel King (ed.), ''Ibn Battuta in Black Africa'', Princeton 2005, p. 54.</ref>
== A escravização do africano pelo africano ==
Hoje, a escravidão nos choca sob qualquer forma que ela se apresente, todavia, a escravidão africana divergiu profundamente de escravidão racista nas Américas. Por exemplo, o [[Kouroukan Fouga]], a [[Constituição]] do [[Império do Mali]] veementemente proibe maus-tratos ao escravo em seu artigo 20.<ref>http://www.anpe-mali.org/news/la-charte-de-kouroukan-fouga</ref> Além disso, muitos dos povos africanos adotaram o Islã que, por sua vez, prescreve aos crentes tratar os escravos “generosamente” (ihsan) (IV, 36) e considera a alforria como um gesto merecedor e uma obra de beneficência (II, 117; XC, 13).<ref>"O Alcorão" - tradução de Mansour Challita ISBN 978-8-7799-168-6 -Ed. 1ª - Jan.2010</ref>


Na [[África subsariana]], as relações de escravos eram muitas vezes complexas, com diferentes níveis de direitos e liberdades dadas aos indivíduos mantidos em escravidão e restrições a venda e tratamento pelos seus mestres escravagistas. Muitas comunidades tinham hierarquias entre diferentes tipos de escravos: por exemplo, diferenciando entre aqueles que nasceram na escravidão e aqueles que foram capturados e guerra.<ref name="Rodney" /> Diferentemente do que se pensava, a escravidão na África não era realizada somente com cunho doméstico.<ref name="Brasil escola" /> As relações entre escravagistas e escravos, tanto nas Américas como na África, sempre se basearam em punições disciplinares, castigos e violência. Os capturados eram retirados de suas terras, separados de suas famílias, obrigados a aprenderem outros idiomas e costumes além de terem sido humilhados e torturados, o escravo se encontra em posição de subordinação e nunca tratado em igualdade, questionando a visão de que seriam formas mais brandas com todas as formas de escravidão sendo violentas e desumanizadoras.<ref name="Brasil escola" /> Segundo a historiadora Marina de Melo e Souza, a escravidão africana é cruel e desumanizadora.<ref>{{Citar web|url=https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/historia/os-escravos-que-os-escravos-tinham.htm|titulo=Os escravos que os escravos tinham - Brasil Escola|acessodata=2021-11-30|website=Meu Artigo Brasil Escola|lingua=pt-br}}</ref>
Muitos escravos puderam, assim, alcançar posições de poder e influência. No Egito temos o exemplo de [[Abu al-Misk Kafur]], originalmente escravo de origem etíope que se tornou regente do Egito<ref name = Britannica>Abū al-Misk Kāfūr." Encyclopædia Britannica. 2008. Encyclopædia Britannica Online. Jul. 2008</ref>. Em Marrocos, destaca-se o político Ibn Marjan (d. 1728), um eunuco negro encarregado da tesouraria, bem como dos servos negros no palácio durante a vida do Mawlay Ismael.<ref>Black Morocco: A History of Slavery, Race, and Islam, por Chouki El Hamel</ref>. No Império Mali, [[Mansa Sakura]], escravo de nascimento, foi libertado e tornou-se um general do exército de [[Sundiata Keita]] posteriormente nomeando-se o sexto imperador do império mande. <ref>Davidson, Basil. ''Africa in History''. New York: Simon & Schuster, 1995.</ref> Segundo as crônicas árabes, os regimentos negros, chamados ''‘abid al-shira’'' (escravos comprados), tornaram-se um importante elemento dos exércitos
fatímidas. Eles conquistaram um papel principal no reinado de [[al-Mustansir]]
(1035-1094), graças ao indefectível apoio que lhes foi conferido pela mãe do
califa, escrava sudanesa de muito caráter. No apogeu de sua potência, eles eram
50.000. <ref>Ibn MUYASSAR, 1919, p. 16-17.</ref> Escravos negros também alcançaram destaque na Índia, tendo sido [[Malik Ambar]] o mais notável deles sendo referido como o ''guru da guerilha [[Maratha]]''.<ref>http://www.tribuneindia.com/2006/20060813/spectrum/art.htm</ref>


As formas de escravidão na África eram fortemente relacionadas com as estruturas de [[parentesco]].<ref>{{Citation|último=McMahon|primeiro=Elisabeth|titulo=Mitigating Vulnerability through Kinship|publicacao=Slavery and Emancipation in Islamic East Africa|ano=2013|páginas=193–230|local=Cambridge|publicado=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9781139198837.008|isbn=978-1-139-19883-7}}</ref> Em muitas comunidades africanas, onde a terra não poderia ser mantida como propriedade privada, a escravidão de indivíduos era usada como forma para aumentar a influência de uma pessoa tinha e expandir suas conexões.<ref name=Snell /> Isso fez com que os escravos se tornassem parte da linhagem de um mestre e os filhos dos escravos se tornavam bem conectados com os laços de família maiores em diversos casos. <ref name=":3">{{citar livro|título=Transformations of Slavery: A History of Slavery in Africa|ultimo=Lovejoy|primeiro=Paul|editora=Cambridge University Press.|ano=2012}}</ref> <ref>{{citar periódico|último=Gudmestad|primeiro=Robert|data=2006-01-26|titulo=Technology and the World the Slaves Made|periódico=History Compass|volume=4|número=2|páginas=373–383|doi=10.1111/j.1478-0542.2006.00313.x|issn=1478-0542}}</ref> Crianças de escravos nascidos nas famílias poderiam ser integrados ao grupo de parentesco do mestre e subir para posições proeminentes na sociedade, até ao nível de chefe em algumas instâncias.<ref name=Rodney /> No entanto, o estigma frequentemente continuava aderido e poderia haver separações estritas entre membros escravos de um grupo de parentesco e aqueles relacionados com o mestre.<ref name=Snell>{{citar livro|último=Snell|primeiro=Daniel C.|titulo=The Cambridge World History of Slavery|year=2011|publicado=Cambridge University Press|local=Nova Iorque|páginas=4–21|editor=Keith Bradley and Paul Cartledge|capítulo=Slavery in the Ancient Near East}}</ref>
Na África Ocidental, o jonya (do termo mande ''jon'', que significa cativo) era um escravo ligado a uma linhagem. Nas sociedades em que reinou esse sistema, ele pertencia a uma categoria sociopolítica integrada a classe dominante; era então cidadão exclusivo do Estado e pertencia a seu aparelho político. Enquanto sistema e categoria social,o jonya desempenhou um papel considerável e original nos Estados e impérios de [[Gana]], [[Takrur]], [[Mali]], [[Império de Kanem-Bornu | Kanem-Bornu]], [[Ashanti]] e [[Iorubá]].<ref>História Geral da África - Volume V: África do século XVI ao XVIII, ISBN: 978-85-7652-127-3</ref>. Os soberanos [[sudaneses]] também importavam escravos. [[Ibn Battuta]] nos relatou que quando o imperador do [[Mali]] sentava no trono em praça pública, atrás dele postavam-se cerca de 30 mercenários [[mamelucos]], comprados para ele no [[Cairo]]. <ref>http://www.fordham.edu/halsall/source/1354-ibnbattuta.asp</ref> Também havia os ''worossos'' que eram escravos "nascidos no meio" descendentes dos jons (escravos capturados ou comprados) sendo que ambas as classes de escravos tinham direito de trabalhar em seu próprio benefício por determinado período. Era possível para eles juntar sua própria propriedade pessoal havendo, inclusive, o termo 'jon ma jon' para definir o escravo pertencente a outro escravo.<ref>Traders Without Trade: Responses to Change in Two Dyula Communities, de Robert Launay, p. 40, 2007, ISBN: 9780521040310</ref>


Durante o tráfico transaariano de escravos, os escravos da África Ocidental eram transportados através do deserto do Sara até ao Norte de África para serem vendidos às civilizações do Mediterrâneo e do Médio Oriente. Os eunucos eram necessários para a guarda dos haréns, como criados, como funcionários do palácio e também como guardiães de mesquitas, túmulos e outros locais sagrados. As mulheres escravas eram principalmente concubinas ou simples servas. Um proprietário de escravos tinha direito legal ao usufruto sexual das suas escravas. Embora as mulheres livres pudessem possuir escravos do sexo masculino, não lhes era admitido, obviamente, direito equivalente.<ref>{{Citar web|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard|url=https://sourcebooks.fordham.edu/med/lewis1.asp|titulo=Bernard Lewis. Race and Slavery in the Middle East, Oxford Univ Press 1994. - Chapter. 1 Slavery|acessodata=2023-08-05|website=Internet History Sourcebooks Project}}</ref>
O comércio de escravos foi muito importante no [[Império Songhai]]. Os escravo era muitas vezes usado ​​como soldado, e foi muito honrado e digno de confiança. Escravos palacianos eram chamados ''Arbi''. ''Arbis'' trabalhavam como músicos, artesãos, ceramistas, e muitos outros trabalhos artísticos. Os escravos também trabalhavam em fazendas para produzir alimentos que apoiava moradores locais. Em muitas sociedades africanas, havia muito pouca diferença entre os camponeses livres e os camponeses vassalos feudais.<ref>http://prezi.com/jejn9tn6jr2t/songhai-empire/</ref>A maioria dos escravos vivia em suas próprias casas ''en famille''. Logo, o mestre era obrigado a prover seu escravo com alguma extensão territorial cultivável na qual ele poderia trabalhar por conta própria, e lhe era permitido um ou dois dias livres na semana onde ele poderia trabalhar em sua própria fazenda ou em qualquer outra ocupação remunerada, ao invés da trabalhar na fazenda ''gandu'' de seu senhor.<ref>Slaves and Slavery in Muslim Africa: The servile estate, por John Ralph Willis</ref>


Na [[Carta de Curucã Fuga]], (1235) a [[constituição]] do [[Império do Mali]], reconstruída a partir da tradição oral, veementemente proíbe maus-tratos ao escravo em seu artigo 20.<ref>{{Citar web|url=http://www.anpe-mali.org/news/la-charte-de-kouroukan-fouga|titulo=La Charte de Kouroukan Fouga (em língua francesa)|acessodata=2013-08-25|publicado=Agence Nationale pour l'Emploi (Arq. em WayBack Machine)|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110101165508/http://www.anpe-mali.org/news/la-charte-de-kouroukan-fouga|arquivodata=2011-01-01|urlmorta=yes}}</ref> Muitos dos povos africanos adotaram o Islã que, por sua vez, prescreve aos religiosos tratar os escravos “generosamente” (Alcorão, Sura [[An-Nisa|An-Nissa]], 36) e considera, embora não ordene, a alforria como um gesto merecedor e uma obra de beneficência ( Alcorão, Sura [[Al-Baqara|Al-Baqarah]], 177). Vários escravos, em especial os escravos militares, puderam, assim, alcançar posições de poder e influência; outros, a maioria, viviam e morriam em condiçoes terríveis nas minas, drenagem de pântanos e outros trabalhos esgotantes; nas minas de sal do [[Deserto do Saara|Saara]] nenhum escravo teria uma esperança de vida de mais de cinco anos.<ref>{{citar livro|título=Race and Slavery in the Middle East|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard|editora=Oxford University Press|ano=1990|página=14|páginas=}}</ref> No Egito temos o exemplo de [[Abul Misque Cafur]], originalmente um escravo negro de origem etíope que se tornou regente do Egito.<ref name="Britannica">Abū al-Misk Kāfūr." Encyclopædia Britannica. 2008. Encyclopædia Britannica Online. Jul. 2008</ref> Em Marrocos, destaca-se o político ibne Marjã (d. 1728), um eunuco negro encarregado da tesouraria, bem como dos servos negros no palácio durante a vida do [[Mulei Ismail]].<ref>Black Morocco: A History of Slavery, Race, and Islam, por Chouki El Hamel</ref> No Império do Mali, [[Mansa Sacura]] {{nwrap|r.|1285|1300}}, escravo de nascimento, foi libertado e tornou-se um general do exército de [[Sundiata Queita]] posteriormente nomeando-se o sexto imperador do império mande.<ref>Davidson, Basil. ''Africa in History''. Nova Iorque: Simon & Schuster, 1995.</ref> No entanto, foi a criação do tráfico de escravos muçulmano que ampliou as dimensões do comércio de escravos que antes era de pequena dimensão entre os africanos.


===Escravos como propriedade===
[[Imagem:Atestado de compra de escravos feito por Agostinho José de Carvalho, a mando do Sr. Antônio da Silva Prado, Arquivo Público do Estado de São Paulo.pdf|thumb|right|140px|Atestado de compra de 467 escravos em [[Moçambique]], com destino a Santos, a mando de [[Antônio da Silva Prado]]. [[Arquivo Público do Estado de São Paulo|APESP]]]]


A escravidão em que os escravos são tratados como uma [[propriedade]] do mestre é uma forma específica de escravidão.<ref>{{Citation|titulo=Othering the Slave Owner|data=2020-08-31|publicacao=American Slavery, American Imperialism|páginas=107–146|publicado=Cambridge University Press|doi=10.1017/9781108663908.004|isbn=978-1-108-66390-8}}</ref> Assim sendo, o dono é livre para vender, comercializar ou tratar o escravo como ele faria como outras propriedades suas e os filhos dos escravos eram mantidos como propriedades dos mestres (a semelhança da escravidão de negros nas Américas). Existem evidências da longa história dessa prática de escravidão com os escravos sendo propriedades no Vale do [[Rio Nilo]], grande parte do Sahel e [[Norte da África]], as evidências sobre a extensão dessa prática no resto do continente (África sub-saariana) vêm principalmente dos relatos escritos de mercadores árabes e europeus sobre a forma que existia antes do contato com eles, com poucos registros escritos antes desses relatos, as novas evidências arqueológicas demonstram que provavelmente era uma forma comum e muito abusiva de escravidão.<ref name=Gaspar>{{citar livro|último=Gaspar|primeiro=D. B.|titulo=More than chattel: black women and slavery in the Americas|year=1998|publicado=Indiana University Press|local=Bloomington}}</ref> Relatórios apontam que essa prática continua na África do Norte islâmica em países como o [[Sudão]] e [[Mauritânia]] (apesar de ambos os países participarem da Convenção sobre a Escravidão da ONU de 1956), um desses casos é o de Francis Bok que foi sequestrado e usado como escravo em 1986 após sua vila no sul do Sudão ter sido atacada, ele foi escravizado por 10 anos no norte do Sudão até fugir. O Sudão nega a existência continuada da escravidão no seu terrritório.<ref>{{Citar web|url=https://www.thoughtco.com/types-of-slavery-in-africa-44542|titulo=Types of Enslavement in Africa and the World Today|website=ThoughtCo|lingua=en}}</ref>
Muitas tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus.<ref name=lovejoy/> Existia, também, a escravidão por dívidas. De fato, este foi um dos elementos-chave responsável pela mercantilização dos povos africanos.


===Serviço doméstico===
Nas razias, quando as comunidades eram invadidas, as pessoas eram capturados por grupos armados e, depois de serem levadas até entrepostos no litoral africano, eram trocadas com os traficantes por mercadorias. Os navios negreiros saíam do Brasil provisionados com alimentos para a viagem, além dos gêneros utilizados para a troca, como aguardente de cana, armas dos mais variados tipos, gêneros manufaturados e alimentos.
{{Quote box
|quote = "Os escravos na África, eu suponho, estão em proporção de três para cada homem livre. Eles não reivindicam recompensa pelos seus serviços exceto comida e roupas, e são tratados com gentileza ou severidade, de acordo com a boa ou má disposição de seus mestres. O costume, no entanto, estabeleceu certas regras com relação ao tratamento de escravos, o que seria desonroso violar. Portanto, os escravos domésticos ou nascidos na própria casa de um homem, são tratados com maior leniência do que aqueles comprados com o dinheiro. ... mas essas restrições no poder do mestre não se estende ao tratamento dos prisioneiros tomados em guerra, nem aos escravos comprados com o dinheiro. Essas pobres criaturas são consideradas estranhas e estrangeiros, que tem nenhum direito a proteção pela lei e podem ser tratadas com severidade, ou vendidas a um estranho, de acordo com o bel prazer de seus donos."
|source = [[Mungo Park]], ''Travels in the Interior of Africa'' [https://www.gutenberg.org/ebooks/5305 v. II, Chapter XXII – War and Slavery].
|align = right
|width = 350px
|border = 1px
|bgcolor = lightcyan
|halign = left
|Mungo Park|''Viagens ao interior da África''}}
Muitas relações de escravos na África giravam em torno da escravidão doméstica, onde escravos trabalhariam primariamente na casa do mestre, mas reter algumas liberdades.<ref>{{Citation|titulo=2. HOUSE SLAVES|data=2019-12-31|publicacao=The Slave Next Door|páginas=18–42|publicado=University of California Press|doi=10.1525/9780520948037-004|isbn=978-0-520-94803-7}}</ref> Escravos domésticos poderiam ser considerados parte do vínculo doméstico do mestre e não seriam vendidos a outros sem causa extrema.<ref>{{citar periódico|último=Kett|primeiro=Anna Vaughan|data=2017-04-20|titulo=Without the Consumers of Slave Produce There Would Be No Slaves|periódico=University of Illinois Press|volume=1|doi=10.5406/illinois/9780252038266.003.0005}}</ref> Os escravos nesse sistema poderiam ter lucros do seu trabalho (em forma de terra ou produtos) e podiam casar e passar sua terra para seus filhos em muitos casos.<ref name=Rodney>{{citar periódico|último=Rodney|primeiro=Walter|titulo=African Slavery and Other Forms of Social Oppression on the Upper Guinea Coast in the Context of the Atlantic Slave-Trade|periódico=The Journal of African History|year=1966|volume=7|número=3|páginas=431–443|jstor=180112|doi=10.1017/s0021853700006514}}</ref><ref>{{citar web |publicado=Anti-Slavery International |titulo=Domestic Slavery: What Is It? |url=https://www.antislavery.org/slavery-today/domestic-work-and-slavery/}}</ref> Na África Ocidental, o jonya (do termo mande ''jon'', que significa cativo) era um escravo ligado a uma linhagem. Nas sociedades em que reinou esse sistema, ele pertencia a uma categoria sociopolítica integrada a classe dominante; era então cidadão exclusivo do Estado e pertencia a seu aparelho político. Enquanto sistema e categoria social,o jonya desempenhou um papel considerável e original nos Estados e impérios de [[Império de Gana|Gana]], [[Império Tacrur|Tacrur]], [[Império do Mali|Mali]], [[Império de Canem|Canem]], [[Império Axânti|Axânti]] e [[Império de Oió|Iorubá]].<ref>História Geral da África - Volume V: África do {{séc|XVI}} ao XVIII, ISBN 978-85-7652-127-3</ref> Os soberanos [[sudaneses]] também importavam escravos. [[Ibne Batuta]] nos relatou que quando o imperador do Mali sentava no trono em praça pública, atrás dele postavam-se cerca de 30 mercenários [[mamelucos]], comprados para ele no [[Cairo]].<ref>http://www.fordham.edu/halsall/source/1354-ibnbattuta.asp</ref>


Também havia os ''worossos'' que eram escravos "nascidos no meio" descendentes dos jons (escravos capturados ou comprados) sendo que ambas as classes de escravos tinham direito de trabalhar em seu próprio benefício por determinado período. Era possível para eles juntar sua própria propriedade pessoal havendo, inclusive, o termo 'jon ma jon' para definir o escravo pertencente a outro escravo.<ref>Traders Without Trade: Responses to Change in Two Dyula Communities, de Robert Launay, p. 40, 2007, ISBN 9780521040310</ref>
== A presença europeia na costa atlântica e o comércio de escravos ==


===Escravidão por dívida ou penhor===
Pela ''Bula Dum Diversas'', de [[18 de Junho]] de [[1452]], o [[papa Nicolau V]] considera o rei de [[reino de Portugal|Portugal]] D. [[Afonso V de Portugal|Afonso V]], e seu sucessores, a faculdade de conquistar e subjugar as terras dos "[[herege|infiéis]]" e de reduzir a pessoa deles escravatura<ref>João de Saldanha Oliveira e Sousa (Marquês de Rio Maior), O Marquês de Pombal e a Repressão Escravatura, Comunicado do Congresso do Mundo Português (1940), Comp. e Imp. na Tipografia Inglêsa, Lisboa, 1943.</ref>.
Escravidão por dívidas por [[penhor]] usando pessoas como [[Garantia (finanças)|garantia]] para o pagamento de dívidas.<ref name="Brasil escola"/><ref>{{Citation|publicacao=GREEK AND ROMAN SLAVERY|local=Abingdon, UK|publicado=Taylor & Francis|doi=10.4324/9780203358993_chapter_2|isbn=978-0-203-37575-4|titulo=Debt-Bondage and Serfdom|ano=1981}}</ref> Nessa forma o trabalho escravo é feito pelo [[devedor]] ou um parente do devedor (geralmente uma criança).<ref>{{Citation|titulo=Epilogue: The Debtor and the Slave|publicacao=Of Bondage|ano=2013|páginas=145–148|local=Philadelphia|publicado=University of Pennsylvania Press|doi=10.9783/9780812208221.145|isbn=978-0-8122-0822-1}}</ref> Penhor era uma forma comum de garantia na [[África Ocidental]].<ref>{{citar periódico|último=Douglas|primeiro=Mary|data=1964|titulo=Matriliny and Pawnship in Central Africa|periódico=Africa|volume=34|número=4|páginas=301–313|doi=10.2307/1157471|jstor=1157471|issn=0001-9720}}</ref> Envolvia o penhor de uma pessoa ou membro da família servindo outra pessoa provendo [[crédito]].<ref>{{citar periódico|data=1922|titulo=Pledges. Delivery to Create a Future Pledge. Assignment of Debt to One Person and of Pledge to Another|periódico=Harvard Law Review|volume=35|número=3|páginas=345|doi=10.2307/1329636|jstor=1329636|issn=0017-811X}}</ref> O penhor era relacionado, no entanto distinto, da escravidão na maioria das conceptualizações pois o arranjo poderia incluir termos específicos ou limitados de serviço que seriam providos,<ref name="Lovejoy 67–88">{{Citation|último=Lovejoy|primeiro=Paul E.|titulo=Pawnship, slavery and freedom|data=2019-03-07|publicacao=Slavery in the Global Diaspora of Africa|páginas=67–88|local=Nova Iorque, NY : Routledge, 2019. {{!}} Series: Global Africa; 12|publisher=Routledge|doi=10.4324/9781315163499-6|isbn=978-1-315-16349-9}}</ref> e porque os laços de parentesco protegeriam a pessoa de ser vendida para a escravidão.<ref name="Lovejoy 67–88"/> Antes do contato com europeus o penhor era uma prática comum na África Ocidental praticada por povos como os [[acãs]], [[jejes]], [[Gas (povo)|Gas]], [[Iorubás]] e os [[Edos]]<ref>{{Citation|último=Horton|primeiro=Khim|titulo=Common difficulties experienced by older people|data=2019-07-10|publicacao=Nursing Older People|páginas=52–72|local=Abingdon, Oxon; Nova Iorque, NY: Routledge, 2019.|publicado=Routledge|doi=10.4324/9781315116129-6|isbn=978-1-315-11612-9}}</ref>(em formas modificadas também existiu entre os [[efiques]], [[Ibos]], os [[ijós]] e os [[Fons]]).<ref name="Regnier 2015 152–168">{{citar periódico|último=Regnier|primeiro=Denis|data=2015|titulo=Clean people, unclean people: the essentialisation of 'slaves' among the southern Betsileo of Madagascar|periódico=Social Anthropology|volume=23|número=2|páginas=152–168|doi=10.1111/1469-8676.12107|issn=0964-0282|url=https://philpapers.org/rec/REGCPU}}</ref><ref name=" Lovejoy and Richardson">{{citar periódico|titulo=The Business of Slaving: Pawnship in Western Africa, c. 1600–1810|periódico=The Journal of African History|year=2001|volume=42|número=1|páginas=67–89|autor=Paul E. Lovejoy and David Richardson|doi=10.1017/S0021853700007787}}</ref><ref>{{citar livro |titulo=Pawnship, Slavery, and Colonialism in Africa |local=Trenton, NJ |publicado=Africa World Press |year=2003 |editor1=Paul E. Lovejoy |editor2=Toyin Falola}}</ref>


===Escravidão militar===
Já em meados da [[década de 1470]] os "portugueses tinham começado a comerciar nos golfos do [[Benim]] e frequentar o delta do [[rio Níger]] e os rios que lhe ficavam logo a oeste", negociando escravos.
[[Imagem:Eugène Ferdinand Victor Delacroix 044.jpg|miniatura|220px|direita| O sultão [[Mulei Ismail]] rodeado da sua [[Abid al-Bukhari|Guarda Negra]] (quadro de Eugène Delacroix)]]


Escravidão militar envolvia a aquisição e treinamentos de unidades militares conscritas que iriam reter a identidade de escravos militares mesmo após o seu serviço.<ref name="Johnson">{{citar periódico|último=Johnson|primeiro=Douglas H.|titulo=The Structure of a Legacy: Military Slavery in Northeast Africa|periódico=Ethnohistory|year=1989|volume=36|número=1|páginas=72–88|doi=10.2307/482742|jstor=482742}}</ref> Escravos soldados eram comandados por um ''patrono'', que poderia ser um chefe de governo ou um senhor da guerra independente, e que iria enviar as suas tropas por dinheiro ou seus interesses políticos.<ref name="Johnson" />
Mesmo assim, as primeiras excursões portuguesas à [[África subsariana]] foram pacíficas (o marco da chegada foi a construção da [[fortaleza]] de [[São Jorge da Mina]], em [[Gana]], em [[1482]]). Embora houvesse a exceção do Mali. Os portugueses chegaram na costa Senegâmbia em 1444, <ref>Mansour, page 33</ref> porém, eles não estavam vindo em paz. Usando [[caravela]]s para lançar ataques e escravizar a população no litoral africano, <ref>Shillington, page 921</ref> os territórios vassalos do Mali foram pegos de surpresa por ambos os navios e os peles brancas dentro deles. No entanto, o [[Império Mali]] rebateu os ataques portugueses com pequenas embarcações. O Mandekalu (exército imperial malinês) infligiu uma série de derrotas contra o português, devido à utilização de flechas envenenadas. As derrotas forçaram o rei de [[Portugal]] a despachar seus cortesão [[Diogo Gomes]] em 1456 para garantir a paz. O esforço foi bem-sucedido e concluído em 1462, e o comércio tornou-se o novo foco de Portugal ao longo da [[Senegâmbia]].<ref>Thornton, page 23</ref>


Era uma forma mais significante no Vale do Rio Nilo (primariamente no [[Sudão]] e [[Uganda]]), com unidades de escravos militares organizadas por várias autoridades islâmicas,<ref name="Johnson" /> e com senhores da guerra da África Ocidental.<ref name="Wylie">{{citar periódico|último=Wylie|primeiro=Kenneth C.|titulo=Innovation and Change in Mende Chieftaincy 1880–1896|periódico=The Journal of African History|year=1969|volume=10|número=2|jstor=179516|páginas=295–308|doi=10.1017/s0021853700009531}}</ref> As unidades militares no Sudão foram formadas no {{séc|XIX}} por invasões e campanhas militares em larga escala nos atuais Sudão e [[Sudão do Sul]].<ref name="Johnson" />


Além disso, um número considerável de homens nascidos entre 1800 e 1849 em regiões da África ocidental (atual [[Gana]] e [[Burkina Faso]]) foram sequestrados para servir no exército das [[Índias Orientais Neerlandesas]].<ref>{{citar livro|data=2018|editor-sobrenome=Karg|editor-nome=H.|editor-sobrenome2=Drechsel|editor-nome2=P.|titulo=Atlas of West African urban food systems: examples from Ghana and Burkina Faso|doi=10.5337/2018.224|hdl=10568/98421|isbn=9789290908753}}</ref> Interessantemente, escravos soldados eram em média 3 cm mais altos que a população média da África ocidental.<ref>{{citar periódico|data=2007|titulo=Children 6 cm taller, 3 kg heavier than 30 years ago|periódico=Chinese Medical Journal|volume=120|número=2|páginas=173|doi=10.1097/00029330-200701020-00025|issn=0366-6999}}</ref> Além disso, mostrou que eles eram mais baixos que europeus do norte e quase da mesma estatura que os europeus do sul.<ref>{{Cite document|último=Savage|primeiro=Sharon|data=2018-04-24|titulo=Faculty Opinions recommendation of Shorter telomere length in Europeans than in Africans due to polygenetic adaptation.|doi=10.3410/f.726191338.793545190}}</ref> Isso estava relacionado principalmente na qualidade da nutrição e cuidados de saúde.<ref>{{citar periódico |último1=Baten |primeiro1=Jörg |titulo=The biological standard of living in early nineteenth-century West Africa: new anthropometric evidence for northern Ghana and Burkina Faso |periódico=The Economic History Review |data=2011}}</ref>
Portugueses muitas vezes se casavam com mulheres nativas e eram aceitos pelas lideranças locais.


Segundo as crônicas árabes, os regimentos negros, chamados ''‘abid al-shira’'' (escravos comprados), tornaram-se um importante elemento dos exércitos fatímidas. Eles conquistaram um papel principal no reinado do [[califa fatímida]] [[Almostancir do Cairo]] {{nwrap|r.|1036|1094}}, graças ao indefectível apoio que lhes foi conferido pela mãe do califa, escrava sudanesa de muito caráter. No apogeu de sua potência, eles eram {{fmtn|50000}}.{{Carece de fontes|data=Dezembro de 2021}}
Os investimentos na navegação da costa oeste da África foram inicialmente estimulados pela crença de que a principal fonte de lucro seria a exploração de minas de ouro, expectativa que não se realizou. Assim, consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de cerca de 11.313.000 indivíduos.


Escravos negros também alcançaram destaque na Índia, tendo sido [[Maleque Ambar]] o mais notável deles sendo referido como o ''guru da guerrilha [[Maratas (etnia)|Marata]]''.<ref>http://www.tribuneindia.com/2006/20060813/spectrum/art.htm</ref>
Em torno do comércio de escravos, estabeleceu-se o comércio de outros produtos, tais como marfim, tecido, tabaco, armas de fogo e peles . Os comerciantes usavam como moeda pequenos objetos de cobre, manilhas e contas de vidro trazidos de [[Veneza]].
Mas a principal fonte de riqueza obtida pelos europeus na [[África]] pode ter sido mesmo a [[mão-de-obra]] demandada nas colônias americanas e que pareceu-lhes uma boa justificativa para os investimentos em explorações marítimas que, especialmente os portugueses, vinham fazendo desde o século XIV. Dessa forma, embora no século XV os escravos fossem vendidos em Portugal e na Europa de maneira geral, foi com a exploração das colônias americanas que o tráfico atingiu grandes proporções.


=== Escravidão por tributo ===
O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. Paul Lovejoy faz uma descrição pormenorizada de diversos casos de escravidão. Igualmente ele chama a atenção para o caráter de relação de dependência inerente à escravidão, o indivíduo na situação de escravo ficava numa situação em que não tinha autonomia alguma e que dependia do seu senhor para suas necessidades mais fundamentais, como no caso de mulheres que se tornavam concubinas.
De um outro modo, os escravos eram também obtidos por tributo de regiões vassalas.{{sfn|N'Diaye|2008|p=17, 161}}


Cerca do ano de 652, e após vários anos de guerra, o reino cristão da Núbia concluiu um acordo de paz com o [[Califado Ortodoxo|califado Rashidun]]. É conhecido como um dos tratados de paz mais antigos da história, foi respeitado por quase sete séculos e permitiu a coexistência pacífica entre o Egito muçulmano e a Núbia cristã.<ref name=":5">{{citar livro|título=General History of Africa III -Africa from the Seventh to the Eleventh Century|ultimo=Fasi|primeiro=M. El (editor)|editora=University of California Press|ano=1988|páginas=194-195}}</ref>{{sfn|N'Diaye|2008|p=19-21}}<ref>{{citar livro|título=THE CAMBRIDGE HISTORY OF A F R I C A - Volume 2 -from c. 500 BC to AD 1050|ultimo=Fage|primeiro=J.D. (editor)|editora=Cambridge University Press|ano=2008|páginas=565-567}}</ref>
Desde muito antes da chegada dos portugueses a [[Gana]], a escravidão articulada com a expansão do [[Islã]] sempre esteve calcada em interesses sexuais. Os árabes vendiam os homens e ficavam com as mulheres, que eram absorvidas pelas comunidades e, conforme incorporavam valores das sociedades de seus senhores, ganhavam maior liberdade. Os filhos eram assimilados pela sociedade muçulmana. Além disso, as mulheres faziam quase todo o trabalho agrícola.


Conforme o tratado, conhecido como Tratado Baqt (o termo ''baqt'' significando ele mesmo tratado), a Núbia era forçada a entregar anualmente "trezentos e sessenta cabeças de escravos ao Imã dos muçulmanos. Devem ser escravos de boa qualidade do seu país,sem defeito, tanto masculinos como femininos, nem extremamente velhos nem crianças menores de idade. Os que entregará ao governador de Assuão. "<ref>{{citar livro|título=The Middle East - A BRIEF HISTORY OF THE L A S T 2000 YEARS|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard|editora=Simon & Schuster Inc.|ano=1995|páginas=208-209}}</ref>
A preferência dos traficantes africanos por cativos do sexo feminino foi um fator decisivo para que, no início de seus negócios nessa área, os europeus comprassem muito mais homens do que mulheres. Outro fator importante foi a constatação de que os homens eram mais resistentes às péssimas condições de salubridade a que eram submetidos nas longas viagens de travessia do oceano [[Atlântico]] em [[navios negreiros]]. Também por isso, as populações de escravos, tanto na [[África]] como nas [[Américas]], não tinham como se sustentar por meio da reprodução biológica, o que gerava uma constante substituição dos escravos por novas levas e girava a máquina dos negócios dos traficantes. Dessa forma, "o [[trabalho escravo]] estava diretamente relacionado à consolidação da infraestrutura comercial que era necessária para a exportação de escravos".


Os termos exactos do acordo, cuja versão original se perdeu, não são conhecidos. Existem várias cópias, datadas de vários séculos depois, com algumas diferenças entre elas; conforme algumas versões, a parte muçulmana obrigar-se-ia também a fornecer, em troca dos escravos negros, cereais, tecidos e vinhos, o que suporia um acordo em pé de igualdade.<ref name=":5">{{citar livro|título=General History of Africa III -Africa from the Seventh to the Eleventh Century|ultimo=Fasi|primeiro=M. El (editor)|editora=University of California Press|ano=1988|páginas=194-195}}</ref>
=== Angola ===
Na colônia de [[Angola]], a exportação de mão de obra escrava pelo porto de [[Luanda]] terá sido alvo de competição no século XVII entre portugueses e holandeses.
É depois da disputa entre os colonizadores, cujo vencedor foi o [[reino de Portugal]], que pode ter se originado a captura direta de escravos, nas chamadas Guerras Angolanas, no seio de certas tribos que tinham lutado contra os portugueses. Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão de obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]], mas também a exploração de ouro na região central.


===Escravos para sacrifício===
Navios com mercadorias de [[Goa]] faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas "fazendas de negros". Dali, seguiam para [[Salvador (Bahia)|Salvador]], na [[Bahia]], carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul.
[[imagem:Victims for sacrifice-1793.jpg|thumb|250px|Escravos para sacrifício nos Costumes Anuais de Daomé – do livro A História de Daomé, um reino no interior da África, de Archibald Dalzel, 1793.]]
[[Sacrifício humano]] era comum nos estados da África Ocidental até e durante o {{séc|XIX}}.<ref>{{Citation|último=Morton|primeiro=Fred|titulo=Slavery in the South African Interior During the 19th Century|data=2017-04-26|encyclopedia=Oxford Research Encyclopedia of African History|publicado=Oxford University Press|doi=10.1093/acrefore/9780190277734.013.77|isbn=978-0-19-027773-4}}</ref> Embora as evidências arqueológicas não sejam claras sobre o assunto antes dos registros europeus, nas sociedades que praticavam sacrifícios humanos, os escravos eram as vítimas mais proeminentes. <ref name=":3">{{citar livro|título=Transformations of Slavery: A History of Slavery in Africa|ultimo=Lovejoy|primeiro=Paul|editora=Cambridge University Press.|ano=2012}}</ref> <ref>{{Citation|titulo=Chapter 3. Societies with Slaves: Genoa, Venice, and the Mamluk Sultanate|data=2020-12-31|publicacao=That Most Precious Merchandise|páginas=61–91|local=Philadelphia|publicado=University of Pennsylvania Press|doi=10.9783/9780812296488-005|isbn=978-0-8122-9648-8}}</ref>


Os [[Costumes anual de Daomé|Costumes Anuais de Daomé]] eram o mais notório exemplo de sacrifício de escravos, onde 500 prisioneiros eram sacrificados. Sacrifícios eram realizados por toda a costa da África Ocidental até o interior. Sacrifícios eram comuns no [[Reino do Benim]], no que hoje é a [[Gana]], e nos pequenos estados independentes do que hoje é o sul da [[Nigéria]]. Na [[Axante (Gana)|região Axante]], sacrifícios humanos eram frequentemente combinados com [[pena capital]].<ref>Clifford Williams (1988) However, The International Journal of African Historical Studies, Vol. 21, No. 3. (1988), pp.&nbsp;433–441</ref><ref>R. Rummel (1997)"''[https://books.google.com/books?id=N1j1QdPMockC&pg=&dq&hl=en#v=onepage&q=&f=false Death by government]''". Transaction Publishers. p.63. {{ISBN|1-56000-927-6}}</ref><ref>{{citar enciclopédia |enciclopédia=Encyclopædia Britannica |titulo=Human Sacrifice |url=https://www.britannica.com/topic/human-sacrifice |data=26 de agosto de 2019}}</ref>
Os negócios foram se estruturando aos poucos. Num primeiro momento, os governadores da colônia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O pagamento era feito em ouro proveniente de [[Minas Gerais]], no Brasil. Mais tarde, em [[1715]] a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico. Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do [[Rio de Janeiro]], da Bahia e também de [[Pernambuco]]) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de [[Kassanje]].


No XVIII, a [[cachaça]] brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas trocas, sendo valorizado tanto em [[Angola]] quanto no Brasil. Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas européias, como uma das principais moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por [[Lisboa]], o que elevava seu preço e reduzia sua liquidez. Outro produto brasileiro valorizado na África era o fumo de corda de Salvador.


=== A crise de Portugal ===
== Tráfico local de escravos ==
Muitas nações como [[Estado de Bono]], [[Império Axante]] no atual Gana e os [[iorubás]] da atual Nigéria estavam envolvidos no comércio de escravos.<ref>{{citar livro|último1=Peterson|primeiro1=Derek R.|url=https://books.google.com/books?id=Om12BgAAQBAJ&pg=PA113|titulo=The Politics of Heritage in Africa|último2=Gavua|primeiro2=Kodzo|último3=Rassool|primeiro3=Ciraj|data=2015-03-02|publicado=Cambridge University Press|isbn=978-1-107-09485-7|língua=en}}</ref> Grupos como os [[Mbangalas]] da [[Angola]] e o [[povo Nyamwezi]] da [[Tanzânia]] serviam como intermediários de bandas errantes, travando guerras contra estados africanos para capturar a população e exportar como escravos.<ref>{{Citation|último=Thornton|primeiro=John|titulo=Imbangala|data=2005-04-07|publicacao=African American Studies Center|publicado=Oxford University Press|doi=10.1093/acref/9780195301731.013.41788|isbn=978-0-19-530173-1}}</ref> Os historiadores [[John Thornton]] e [[Linda Heywood]] da [[Universidade de Boston]] estimaram que dos africanos capturados e vendidos como escravos para as Américas no [[Tráfico de escravos do Atlântico]],<ref name="Freedom">{{Citation|titulo=Freedom|data=2009-02-16|publicacao=The Atlantic World|páginas=615–660|publicado=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9780511816604.018|isbn=978-0-511-81660-4}}</ref> cerca de 90% foram escravizados por outros africanos e vendidos aos mercadores europeus.<ref name="Ending the Slavery Blame-Game" /> [[Henry Louis Gates]], cátedra da Universidade de Harvard dos estudos africanos e afro-americanos, declarou que "sem as complexas parcerias nos negócios entre as elites africanas com mercadores e agentes comerciais europeus,<ref>{{Cite document|titulo=Harvard University, Department of African and African American Studies (AAAS)|doi=10.1163/_afco_asc_1693}}</ref> o tráfico de escravos para o Novo Mundo seria impossível, ao menos não na escala em que ocorreu."<ref name="Ending the Slavery Blame-Game">{{citar jornal|url=https://www.nytimes.com/2010/04/23/opinion/23gates.html?_r=1&pagewanted=1&hp|autor=Henry Louis Gates Jr.|titulo=Ending the Slavery Blame-Game|acessodata=2012-03-26 |arquivourl = https://www.nytimes.com/2010/04/23/opinion/23gates.html <!-- Bot retrieved archive --> |arquivodata = 23 de abril de 2010}}</ref> O tráfico trouxe também, a deterioração das relações de vizinhança dos povos do litoral com os povos do interior.<ref>{{citar livro|título=Escravos e Trficantes no Império Português : O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX|ultimo=Caldeira|primeiro=Arlindo Manuel|editora=A Esfera dos Livros|ano=2013|página=18}}</ref>
Em 1755, [[Portugal]] foi abalado por um terremoto e começou a perder o controle do tráfico. Na tentativa de reverter a situação, em [[1761]] foram editadas leis que obrigavam os navios a fazer escala em [[Lisboa]] ou em uma alfândega em Luanda. Mas, até [[1769]], apenas quatro navios haviam seguido as novas leis. O que levou à construção de presídios para abrigar os desobedientes.


O grupo étnico inteiro dos [[Bubis]] descende de escravos intertribais de vários grupos étnicos da antiga África central e ocidental que escaparam.<ref>{{Citation|titulo=Reward Offered for Two Escaped Slaves (1745)|data=2014-09-30|publicacao=African American Studies Center|publicado=Oxford University Press|doi=10.1093/acref/9780195301731.013.34166|isbn=978-0-19-530173-1}}</ref>
No continente africano, a submissão das populações também já não era tão simples como no passado. Povos do interior começaram a organizar ataques com armas obtidas no comércio realizado no litoral do [[Atlântico]]. Tentou-se inclusive, embora sem sucesso, constituir uma cavalaria em [[Angola]].
=== Escravidão na Etiópia ===
[[Imagem:Slaves in Ethiopia - 19th century.jpg|miniaturadaimagem|Escravos na Etiópia, {{séc|XIX}}]]
{{Artigo principal|Escravidão na Etiópia}}


A escravidão na Etiópia foi um fenômeno integrante da sociedade etíope desde sua formação até o {{séc|XX}}. Os escravos eram tradicionalmente retirados dos grupos [[Nilotas|nilóticos]] que habitavam o interior do sul da [[Etiópia]], bem como grupos de língua [[omóticos|omótica]]. do sudoeste. <ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/1007070340|título=Children of hope : the odyssey of the Oromo slaves from Ethiopia to South Africa|ultimo=Rowoldt,|primeiro=Shell, Sandra|local=Athens, Ohio|isbn=9780821423189|oclc=1007070340}}</ref> [[Prisioneiro de guerra|Prisioneiros de guerra]] eram outra fonte de escravos, embora o tratamento e deveres desses escravos fosse marcadamente diferente em comparação aos demais.<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Hess|primeiro=Robert L.|ultimo2=Abir|primeiro2=Mordechai|data=1970|titulo=Ethiopia: The Era of the Princes. The Challenge of Islam and the Re-Unification of the Christian Empire, 1769-1855|url=http://dx.doi.org/10.2307/1844582|jornal=The American Historical Review|volume=75|numero=5|paginas=1502|doi=10.2307/1844582|issn=0002-8762|acessodata=}}</ref> Os escravos também eram vendidos no exterior como parte do [[tráfico árabe de escravos]], servindo como concubinas, guarda-costas, servos e tesoureiros.<ref name=":1">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/19066288|título=The Economics of the Indian Ocean slave trade in the nineteenth century|ultimo=1948-|primeiro=Clarence-Smith, W. G.,|data=1989|editora=Frank Cass|local=London, England|isbn=0714633593|oclc=19066288}}</ref>
Pouco a pouco, a escravatura foi sendo abolida. No entanto, foi também no século XVIII que Portugal tomou a dianteira na [[abolição da escravatura]]. Foi no reinado de [[dom José I]], a [[12 de Fevereiro]] de [[1761]], pelo [[Marquês de Pombal]], que se aboliu a escravatura no Reino/Metrópole e na [[Índia]].


A escravidão na Etiópia foi abolida pela primeira vez durante o período de [[Segunda Guerra Ítalo-Etíope|ocupação italiana]], com a emissão de duas leis em outubro de 1935 e abril de 1936. O [[História da Itália#Fascismo|governo italiano]] aboliu a escravidão como -- além de libertar o povo etíope da escravidão -- justificativa moral e válida para a sua população e a comunidade internacional para a inclusão da Etiópia no seu [[Império Italiano|império colonial]]. Após o fim da [[Segunda Guerra Mundial]], a recém-restaurada [[Dinastia salomónica|monarquia etíope]], em resposta à pressão dos invasores [[Aliados da Segunda Guerra Mundial|aliados]], aboliu oficialmente a escravidão e a servidão involuntária em 26 de agosto de 1942.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/844727820|título=Ethiopia : the land, its people, history and culture|ultimo=K.,|primeiro=Mekonnen, Yohannes|edicao=First edition|local=Dar es Salaam, Tanzania|isbn=9987160247|oclc=844727820}}</ref>
=== Os reflexos nas sociedades ===
As medidas protecionistas adotadas por Portugal afastaram os negociantes brasileiros para outros portos menos controlados, e a exclusão do intermédio português no tráfico então foi conquistada. Em 1840, cessa o tráfico através de Luanda, e brasileiros tocam as últimas décadas de comércio escravo.


=== Escravidão no Songai ===
A escravização de populações africanas começou a perder fôlego quando, no início do XIX, ingleses e franceses abandonam o tráfico e começam a pressão para sua extinção.
[[Imagem:Mapa shonghai-pt.svg|miniatura|220px|direita| O Império Songai (cerca de 1500)]] O comércio de escravos foi muito importante no [[Império Songai]]. Os escravos eram muitas vezes usados ​​como soldados, e foram muito honrados e dignos de confiança. Escravos palacianos eram chamados ''Arbi''. ''Arbis'' trabalhavam como músicos, artesãos, ceramistas, e muitos outros trabalhos artísticos. Os escravos também trabalhavam em fazendas para produzir alimentos que apoiavam moradores locais. Em algumas regiões eram empregados nas minas de ouro. Em muitas sociedades africanas, havia muito pouca diferença entre os camponeses livres e os camponeses vassalos feudais.<ref>{{Citar web|url=https://prezi.com/jejn9tn6jr2t/songhai-empire/|titulo=Songhai Empire|acessodata=2021-12-18|website=prezi.com|lingua=pt}}</ref> A maioria dos escravos vivia em suas próprias casas ''en famille''. Logo, o mestre era obrigado a prover seu escravo com alguma parcela de terreno cultivável na qual ele poderia trabalhar por conta própria, e lhe era permitido um ou dois dias livres na semana onde ele poderia trabalhar em sua própria fazenda ou em qualquer outra ocupação remunerada, ao invés de trabalhar na fazenda ''gandu'' de seu senhor.<ref>{{citar livro|título=Slaves and Slavery in Muslim Africa: The servile estate|ultimo=Willis|primeiro=John Ralph|editora=Frank Cass & Co. Ltd.|ano=1985|páginas=32, 36, 42}}</ref>


== Comércio árabe transaariano e no Oceano Índico na Idade Média ==
Até quando os ingleses passaram a afundar os [[navio negreiro|navios negreiros]] que cruzavam o Atlântico, as fazendas que produziam café no sudeste do Brasil ainda usavam mão de obra escrava proveniente da [[África]] ou descendente de escravos africanos.
{{Artigo principal|Escravismo e Islã}}
[[imagem:African slave trade.png|thumb|Principais redes de tráfico árabe de escravos em África na Idade Média]]O comércio de escravos transaarianos, que já existira na Antiguidade, continuou durante a Idade Média.


Após o surgimento do Islão, foi proibido a um muçulmano escravizar outro muçulmano. A partir daí, os escravos tiveram de ser procurados fora das fronteiras do império -- em África, mas também nos países eslavos, no Cáucaso ou na Península Ibérica -- por captura, compra ou tributo'''.''' <ref>{{citar livro|título=Muhammad at Medina|ultimo=Watt|primeiro=W. Montgomery|editora=Oxford University Press|ano=1956|local=|página=|páginas=295-296}}</ref><ref name=":0">{{Citar web|titulo=Race and Slavery in the Middle East (Chap. 1)|url=https://sourcebooks.fordham.edu/med/lewis1.asp|data=1994|publicado=Fordham University|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard}}</ref> Disso resultou um enorme desenvolvimento do comércio de escravos, que se manteve durante mais de uma dezena de séculos.<ref name=":0">{{Citar web|titulo=Race and Slavery in the Middle East (Chap. 1)|url=https://sourcebooks.fordham.edu/med/lewis1.asp|data=1994|publicado=Fordham University|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard}}</ref>
=== O sobado de Kabuko Kambilu ===
Ao sul de Luanda, deságua o [[Rio Kwanza]], que vem do interior do continente. Esse rio foi de fundamental importância na penetração portuguesa, além de servir de corredor para a comercialização de mercadorias de regiões interioranas como Lunda, Kassanje, Malanje, Lubolo, Matamba, Ambaca, Cazembo e outras.
Às margens desse rio, tradicionalmente, se organizavam os sobados, agrupamentos de famílias que respeitavam o chefe de linhagem, que, por sua vez, prestava obediência ao soba, líder escolhido por conselheiros.


[[Imagem:Arabslavers.jpg|miniatura|250px|esquerda| Gravura do século XIX representando uma caravana árabe de comércio de escravos transportando escravos africanos negros através do Sara. O comércio de escravos transaariano desenvolveu-se nos séculos VII e VIII, atingiu o seu auge em meados do século XIX e manteve-se no século XX.]] Este comércio de escravos durou muito mais tempo do que o [[comércio atlântico de escravos]] ou europeu: começou em meados do século VII e sobrevive ainda hoje em alguns países como a Mauritânia e o Sudão. Diz-nos Ronald Segal que "enquanto a proporção de géneros de escravos no comércio atlântico era de dois machos para cada fêmea, no comércio islâmico, eram duas fêmeas para cada macho". Um número muito elevado de escravos era utilizado para fins domésticos, incluindo serviços sexuais. <ref>{{Citar web|ultimo=Hansen|primeiro=Suzy|url=https://www.salon.com/2001/04/06/segal/|titulo=Islam's black slaves|data=2001-04-06|website=Salon|lingua=en}}</ref>
De maneira geral, os sobas serviram como instrumentos de dominação e controle das sociedades africanas pelos europeus. Durante o período colonial, o soba se transformou num vassalo do colonizador, sob a ameaça de receber em seu povoado uma "expedição punitiva", ou seja, saque e escravização.


As caravanas conduziam os escravos, em grupos que atingiam milhares, através do deserto do [[Deserto do Saara|Sahara]] para os seus destinos, ou pelas outras rotas não principais do [[Oceano Índico]] e do [[Mar Vermelho]]. Por si só, a travessia perigosa do Sahara era fatal para um grande número dos escravizados já enfraquecidos.{{sfn|Segal|2001|p=63}}Após a chegada aos destinos, verificava-se uma elevada taxa de mortalidade em todas as classes de escravos, incluindo os comandantes militares. Vindos principalmente de lugares remotos, e sem imunidade natural, morriam fácilmente de doenças endémicas ou epidémicas. {{sfn|Lewis|1990|p=10}}
Em troca da obediência, tinha maior acesso a mercadorias, o que teoricamente aumentava seu poder local.
[[Imagem:Slave Memorial (33917931664).jpg |miniatura|250px|direita| Monumento em homenagem aos escravos em Zanzibar.]]
Uma grande parte dos escravos masculinos eram [[Eunuco|eunucos]], empregados na guarda dos [[Harém|haréns]], que com as conquistas islâmicas atingiram grandes proporções. O processo de castração, feito em crianças e adolescentes, e que no caso dos negros era habitualmente remoção total, provocava um elevado número de mortos devido a infeções, por isso os eunucos atingiam elevados preços no mercado.<ref>{{citar livro|título=The Social Structure of Islam|ultimo=Levy|primeiro=Reuben|editora=Routledge|ano=1962|local=|página=77|páginas=}}</ref>{{sfn|Gordon|1989|p=92-98}} [[Tidiane N'Diaye]], escritor e antropólogo franco-senegalês, considera a castração forçada de milhões de escravos um verdadeiro [[genocídio]], visando a eliminação dos negros, depois de explorados e assassinados.<ref>{{citar livro|título=O Genocídio Ocultado - Investigaçao histórica sobre o tráfico negreiro árabo-muçulmano|ultimo=N'Diaye|primeiro=Tidiane|editora=Gradiva|ano=2008|página=167}}</ref>


O número de escravos enviados através do Saara, do Mar Vermelho e do Oceano Índico é difícil de apurar, mas a escala deste comércio foi também enorme. Estimativas aproximadas da escala do comércio de escravos sugerem que cerca de dezassete milhões e meio de pessoas foram retiradas pela força de África entre 1500 e 1900; destas mais de 70% foram para as Américas e o resto para as regiões muçulmanas do Norte de África, Médio Oriente e do mundo do Oceano Índico. Estas estimativas não incluem o número de escravos enviados para o mundo muçulmano antes de 1500, que foi considerável, nem depois de 1900.<ref>{{citar livro|título=The Routledge History of Slavery|ultimo=Heuman|primeiro=Gad (e outro - editores)|editora=Routledge|ano=2011|páginas=44-45|capitulo=Capítulo 2 da Parte I : Slavery in Africa, por Paul Lovejoy}}</ref>
Na outra face da moeda, nota-se que, no século XIX, os portugueses dependiam totalmente da lealdade de sobas influentes.
== Presença europeia na costa atlântica e o comércio de escravos ==
{{Artigo principal|Comércio atlântico de escravos}}
Muitas tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus.<ref name="lovejoy" /> Nas razias, quando as comunidades eram invadidas, as pessoas eram capturados por grupos armados e, depois de serem levadas até entrepostos no litoral africano, eram trocadas com os traficantes por mercadorias. Os navios negreiros saíam do Brasil provisionados com alimentos para a viagem, além dos gêneros utilizados para a troca, como aguardente de cana, armas dos mais variados tipos, gêneros manufaturados e alimentos.


Em Agosto de 1415, deu-se a captura de Ceuta, um passo importante da expansão portuguesa. Os motivos para a conquista eram vários: o espírito de cruzada religiosa, conforme o tom da época, mas também os fatores económico, estratégico e político.<ref>{{citar livro|título=The Portuguese Seaborne Empire 1415-1825|ultimo=Boxer|primeiro=Charles R.|editora=Hutchinson of London|ano=1969|páginas=18-19}}</ref>
Kabuku Kambilu era um dos maiores sobados da região de Angola, já forte antes da chegada dos portugueses no século XVI. O chefe (conhecido como Kabuku Kambilu) era reconhecido pelos demais sobados como a "primeira autoridade", detentor de poderes mágico-religiosos.
A ordem foi desequilibrada quando o grupamento se aliou aos portugueses e, entre 1875 e 1880, adotou uma política de agressão armada aos sobados vizinhos, passando a controlar grande parte do comércio e do tráfico. Com o passar do tempo, entretanto, as desavenças internas e o crescente descontentamento dos portugueses tiraram do Kabuko suas principais fontes de renda: o monopólio da travessia do Rio Lukala e as feiras de Mukoso, Kangongue e Lukala.
Mais tarde, fazendeiros brancos de Cazengo expandiam suas propriedades até os limites da área ocupada pelo do povo do Kabuku.


As primeiras vítimas do comércio de escravos português não foram porém africanos, mas sim os habitantes originais das Canárias, um povo de origem [[Berberes|berbere]]. Raides para obtenção de escravos já estariam em curso em 1346.<ref>{{citar livro|título=Africa and Africans in the making of the Atlantic world, 1400-1800 (2nd edition)|ultimo=Thornton|primeiro=John|editora=Cambridge University Press|ano=1998|páginas=28-29}}</ref>
=== A África Oriental (costa do Índico e Madagascar) ===


No início da década de 1440, os portugueses já tinham começado a fazer [[Razia|razias]] por escravos em solo africano e fazendo trocas por ouro em pó, primeiro no [[Rio do Ouro (Saara)|Rio do Ouro]], na costa do Sahara Ocidental, depois na ilha de [[Arguim]], ao largo da Mauritânia. Para os portugueses, escravos e ouro já se tinham tornado a atração fundamental da África Atlântica. Foi em Arguim que em 1449-1450 foi construída a primeira [[Feitorias portuguesas|feitoria]] portuguesa em terras africanas, que adquiriria grandes quantidades de ouro.<ref name=":4">{{citar livro|título=A History of Portugal and the Portuguese Empire From Beginnings to 1807 -Volume 2: The Portuguese Empire-|ultimo=Disney|primeiro=Anthony R.|editora=Cambridge University Press|ano=2009|páginas=45-46}}</ref>
Não foi apenas em Angola que os portugueses agiram.
Concomitantemente à exploração do Atlântico, eles alcançaram o continente africano pela costa do oceano [[Índico]], encontrando, nas cidades costeiras, o povo [[Suaílis|suaíli]].
O centro do poder português na exploração da África oriental era [[Goa]] (costa oeste da Índia).
Indianos mantinham relações de comércio com a África Oriental desde o século XV.


Cedo se tornou evidente que os escravos, em vez de serem caçados, poderiam ser obtidos muito mais facilmente na própria feitoria ou mais a sul, através do comércio de escravos já existente. O [[Infante Dom Henrique|Infante D. Henrique]], achando as duas actividades ultimamente incompatíveis, em 1448 proibiu as razias em busca de escravos em qualquer lugar a sul do Cabo Bojador. Até cerca do fim do Século XV, um número de mil escravos por ano passavam na feitoria de Arguim, cuja maior parte acabava em Lisboa, Algarve ou Madeira.<ref name=":4">{{citar livro|título=A History of Portugal and the Portuguese Empire From Beginnings to 1807 -Volume 2: The Portuguese Empire-|ultimo=Disney|primeiro=Anthony R.|editora=Cambridge University Press|ano=2009|páginas=45-46}}</ref>
A presença portuguesa se consolidou na Zambézia no século XVI. Foram feitas alianças com alguns chefes locais que receberam armas de fogo em troca de terras em que exploravam aldeias.
Mesmo os aliados, no entanto, eram obrigados ao pagamento de impostos (a chamada curva), sob a ameaça de uma repreensão militar ("empata").


Em Agosto de 1444, chegou a Lagos o primeiro grande grupo de duzentos e trinta e cinco escravos africanos, capturados a sul do [[Cabo Branco (Mauritânia)|Cabo Branco.]] O desembarque foi presenciado pelo próprio Infante D. Henrique, a quem caberia um quinto da mercadoria humana. Não era, no entanto, a primeira vez que chegavam a Lagos escravos da costa africana, embora nunca em tão grande número. Desde cerca de 1441 que uma ou duas vezes por ano navios partiam em direção ao litoral da Mauritânia, onde por desejo de "honra e proveito" se faziam raides a aldeias ou caravanas de comércio.{{sfn|Caldeira|2013|p=51-53}} [[Gomes Eanes de Zurara]], cronista da corte de D. [[Afonso V de Portugal|Afonso V,]] deixou-nos na sua ''Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné'' o relato comovido da venda e partilha dos 235 escravos:<ref>{{citar livro|título=CHRONIcA DO DESCOBRIMENTO E CONQUISTA DE GUINÉ|ultimo=Zurara|primeiro=Gomes Eanes de|editora=J. P. AILLAUd|ano=1841}}</ref>
Nessa área, o título do líder era "monomotapa", que dominava muitos reinos.
A ação dos portugueses provocou um desequilíbrio nas forças internas, levando o reino dos Mocarangas a expulsar os Tongas do interior para o litoral, onde eram presas fáceis para os europeus.


:::«Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados em lágrimas, olhando uns para os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguardando a altura dos céus, firmando os olhos em eles, bra­dando altamente, como se pedissem socorro ao Pai da natureza; outros feriam seu rosto com as palmas das mãos, lançando-se estendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto,segundo o costume de sua terra, nas quais, posto que as palavras da lin­guagem não pudessem ser entendidas dos nossos, bem correspondiam ao grau de sua tristeza.
Em [[1572]], desembarcou, na [[Zambézia]], a expedição de [[Francisco Barreto]], com o intuito de dominar as minas de ouro e prata que se julgavam estar sob o controle do monomotapa.
A expedição penetrou na região e perdeu muitos integrantes.
Provocou grande destruição, queimando inclusive as capitais de Teve e Manica.


:::Mas para seu dó ser mais acrescentado, sobrevieram aqueles que tinham cargo de partilha e começaram a apartá-los uns dos outros, a fim de pôr os seus quinhões em igualeza; onde convinha a necessidade de se apartarem os filhos dos pais, e as mulheres dos maridos e os irmãos uns dos outros. A amigos nem a parentes não se guardava nenhuma lei, somente cada um caía onde a sorte o levava! [ . . . ] Quem poderia acabar aquela partição sem mui grande trabalho? Que tanto que os tinham postos em uma parte, os filhos, que viam os pais na outra, alevantavam -se rijamente e iam-se para eles; as mães apertavam os outros filhos nos braços e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas, com pouca piedade de suas carnes, por lhes não serem tirados!»
Como o ouro era pouco para ambição portuguesa, ali se estabeleceu um sistema diferente.
Os portugueses construíram pequenos feudos, chamados "prazos".
Sobre eles, sabemos que a herança era passada para a filha do dono, o "prazeiro", e não para seu filho homem.
E que a herdeira era obrigada a casar com um português, de maneira a assegurar a presença de homens portugueses no comando das terras.


Pela ''[[Dum diversas|Bula Dum Diversas]]'', de 18 de Junho de 1452, o [[papa Nicolau V]] autorizou o rei de [[reino de Portugal|Portugal]] D. [[Afonso V de Portugal|Afonso V]], e seu sucessores, a conquistar e subjugar as terras dos "[[herege|infiéis]]", pagãos e outros "inimigos de Cristo" , reduzir as suas pessoas à escravatura perpétua, e "apropriar os seus reinos, ducados, palácios reais, principados e outros domínios, possessões e bens deste tipo a si e ao seu uso e aos seus sucessores, os Reis de Portugal." <ref>João de Saldanha Oliveira e Sousa (Marquês de Rio Maior), O Marquês de Pombal e a Repressão Escravatura, Comunicado do Congresso do Mundo Português (1940), Comp. e Imp. na Tipografia Inglesa, Lisboa, 1943.</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.tylerhistory.org/2018/08/27/1452-papal-bull-dum-diversas/|titulo=1452: Papal Bull Dum Diversas|acessodata=2021-12-24|website=Tyler's History|lingua=en-US}}</ref>
No fim do século XVII, a população de Chamgamira, em Butua, começou a opor resistência ao domínio português. Mais tarde, no século XVIII, a intensificação do comércio e a presença dos "prazeiros" provocaram a insurgência de chefias locais contra a liderança do monomonapa, e em seguida o enfraquecimento do poder africano em geral. Assim, se estabeleceu uma situação de desordem.
Tanto os antigos líderes locais como os portugueses perderam poder de influência.


Portugueses muitas vezes se casavam com mulheres nativas e eram aceitos pelas lideranças locais.
Foi nessa situação que chegaram, à região, dois novos exploradores: os holandeses ([[boers]]), agricultores que estabeleceram grandes fazendas e absorveram parte da cultura local, passando, inclusive, a falar um misto do idioma holandês com linguagens locais, chamado [[Língua africâner|africâner]]; e os ingleses, financiados pelo empresário [[Cecil Rhodes]], que assumiram o tráfico de escravos.
Os aliados locais dos britânicos eram os Ngunis, que dominaram os povos das regiões de Tongas e Carangas depois de muita guerra, negociavam-nos com os negreiros.
Outro fenômeno é digno de nota na região nesse período: o aumento da influência árabe, com a difusão do [[islamismo]] na região.


Os investimentos na navegação da costa oeste da África foram inicialmente estimulados pela crença de que a principal fonte de lucro seria a exploração de minas de ouro, expectativa que não se realizou. Assim, consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de cerca de 11 313 000 indivíduos.
=== A transformação da escravidão na África ===


Em torno do comércio de escravos, estabeleceu-se o comércio de outros produtos, tais como marfim, tecido, tabaco, armas de fogo e peles . Os comerciantes usavam como moeda pequenos objetos de cobre, manilhas e contas de vidro trazidos de [[Veneza]]. Mas a principal fonte de riqueza obtida pelos europeus na [[África]] pode ter sido mesmo a [[mão de obra]] demandada nas colônias americanas e que pareceu-lhes uma boa justificativa para os investimentos em explorações marítimas que, especialmente os portugueses, vinham fazendo desde o {{séc|XIV}}. Dessa forma, embora no {{séc|XV}} os escravos fossem vendidos em Portugal e na Europa de maneira geral, foi com a exploração das colônias americanas que o tráfico atingiu grandes proporções.
Como se viu, no início do século XIX havia forte pressão para que o tráfico de escravos africanos promovido por europeus fosse extinto.
Esse movimento, ao contrário do que se poderia esperar, não extinguiu a escravidão no continente africano, mas fez nascer o modo de produção escravista dentro da própria África.
Diferente, como não poderia deixar de ser, daquele praticado nas colônias americanas, o modo de produção escravista na África foi incorporado de muitas maneiras.
Foram introduzidas plantations (principalmente na savana setentrional), além do trabalho em minas na chamada Costa do Ouro (que contava com um estado centralizado capaz de continuar coagindo indivíduos à escravidão).


O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. Paul Lovejoy faz uma descrição pormenorizada de diversos casos de escravidão. Igualmente ele chama a atenção para o caráter de relação de dependência inerente à escravidão, o indivíduo na situação de escravo ficava numa situação em que não tinha autonomia alguma e que dependia do seu senhor para suas necessidades mais fundamentais, como no caso de mulheres que se tornavam concubinas.{{Carece de fontes|data=Dezembro de 2021}}
Ocorre que não havia na África como controlar todo aquele contingente de indivíduos escravizados sem a ajuda dos europeus.
Muitos fugiam ou se revoltavam encorajados pela retórica abolicionista de missionários e reformadores – figuras que se tornavam cada vez mais comuns.
"A imposição do colonialismo extinguiu a escravidão como um modo de produção e marcou a completa integração da África na órbita do capitalismo".


[[Imagem:Captain walter croker horror stricken at algiers 1815.jpg|thumb|250px|Ilustração de 1815 representando um capitão britânico horrorizado ao ver [[cristãos]] escravizados em [[Argel]] (''ver: [[Escravidão branca]]'')]]
Não se deve incorrer no erro, no entanto, de acreditar que um sistema tão arraigado ao longo de séculos na cultura africana pudesse ser simplesmente abandonado e esquecido de um momento para o outro. O que se deu, a princípio, foi a transição do [[tráfico de escravos]] para o comércio "legítimo" – um processo repleto de problemas e de implicações.
A persistência da prática no [[Daomé]] (antigo reino africano localizado na região em que hoje está o [[Benim]]) é um exemplo ilustrativo.
Apoiado pelo rico e influente traficante de escravos brasileiro [[Francisco Félix de Souza]](''Chacha''), ocorreu ali um golpe de estado.
Em 1818, chegou ao fim o curto e polêmico reinado de Adandozan. Quem assumiu o comando, Guezô, permaneceu no poder por quarenta anos, nos quais incentivou o novo comércio, superando a "crise de adaptação" com sucesso.


A preferência dos traficantes árabes por cativos do sexo feminino foi um fator decisivo para que, no início de seus negócios nessa área, os europeus comprassem muito mais homens do que mulheres. Outro fator importante foi a constatação de que os homens eram mais resistentes às péssimas condições de salubridade a que eram submetidos nas longas viagens de travessia do oceano [[Atlântico]] em [[navios negreiros]]. As populações de escravos, tanto em [[África]] como no mundo árabe ou nas [[Américas]], tinham poucos meios de se sustentar por meio da reprodução biológica, o que gerava uma constante substituição dos escravos por novas levas e girava a máquina dos negócios dos traficantes. Dessa forma, "o [[trabalho escravo]] estava diretamente relacionado à consolidação da infraestrutura comercial que era necessária para a exportação de escravos".{{Carece de fontes|data=Dezembro de 2021}}
Assim como no golfo de [[Biafra]], em [[Daomé]] o comércio de escravos e o de azeite de [[dendê]] (principal mercadoria do comércio legítimo) se expandiu até a década de 1860.
Mas, a partir de 1840, o declínio do tráfico já se mostrava iminente.


=== O legado da escravidão ===
=== Resistência aos esclavagistas europeus ===
É bastante citada a colaboração de africanos no tráfico de escravos europeu, mas habitualmente esquecida a oposição africana ao comércio. A escassez de fontes escritas não facilita o seu estudo.
A venda de indivíduos na condição de escravos organizada por europeus uniu a África e as Américas, da mesma maneira que a escravidão havia atraído povos africanos para a órbita islâmica.


Depois dos portugueses chegarem à costa da Senegâmbia em 1444 e lançarem ataques aos habitantes da costa, o Império do Mali contra-atacou, com embarcações rápidas e rasas. O Mandekalu - exército do Mali - infligiu uma série de derrotas aos portugueses devido aos seus arqueiros e ao seu uso de flechas venenosas. As derrotas obrigaram o rei de Portugal a enviar o seu cortesão Diogo Gomes em 1456 para negociar a paz. O esforço foi um sucesso em 1462, e o comércio tornou-se o foco de Portugal ao longo da Senegâmbia.<ref>{{citar livro|título=Warfare in Atlantic Africa, 1500–1800|ultimo=Thornton|primeiro=John|editora=Routledge|ano=1999|página=11, 23, 27,29}}</ref>
Em termos demográficos, o Brasil foi redesenhado nos três séculos de tráfico de escravos. É claro que a escravidão deixou um legado de inúmeros problemas. O [[preconceito racial]], o desdém pelo estudo da [[história africana]], e até mesmo o desprezo pelo trabalho por aqueles que estão no topo da pirâmide econômica.
=== Angola ===
{{Artigo principal|Escravidão em Angola}}
Na colônia de [[Angola]], a exportação de mão de obra escrava pelo [[porto de Luanda]] terá sido alvo de competição no {{séc|XVII}} entre portugueses e holandeses.


É depois da disputa entre os colonizadores, cujo vencedor foi o [[reino de Portugal]], que pode ter se originado a captura direta de escravos, nas chamadas Guerras Angolanas, no seio de certas tribos que tinham lutado contra os portugueses. Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão de obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]], mas também a exploração de ouro na região central.
Estimulada por novos "preceitos da ciência", como o [[darwinismo social]], a discriminação racial se acentuou no XIX e, mais de um século após a [[abolição da escravatura no Brasil]], a maior parte das escolas particulares desses país ainda têm mais brancos do que negros.
São os brancos que alcançam os melhores postos de trabalho e os salários mais elevados. E, para agravar a situação, a população negra do Brasil experimentou um processo de assimilação.
A [[miscigenação]], que se verificou desde o tempo [[Brasil Colônia|colonial]] (e não ocorreu nas regiões americanas colonizadas por [[inglês|ingleses]], [[franceses]] e [[espanhóis]]) se tornou uma forma de ascensão social e inibiu movimentos de afirmação de um povo que sempre foi majoritário no país – e nunca alcançou o poder.


Navios com mercadorias de [[Goa]] faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas "fazendas de negros". Dali, seguiam para [[Salvador (Bahia)|Salvador]], na [[Bahia]], carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul.
Atualmente, numa iniciativa que visa à redução das distorções históricas, estão sendo estabelecidas cotas para garantir o acesso de todos à educação, à saúde e ao trabalho.
São de se ressaltar também a lei 9 394, segundo a qual "O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia”, e a lei 10 639, sancionada em 2003 e ainda não implementada, que inclui no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino básico das redes pública e privada o estudo obrigatório de história e [[cultura afro-brasileira]].


Os negócios foram se estruturando aos poucos. Num primeiro momento, os governadores da colônia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O pagamento era feito em ouro proveniente de [[Minas Gerais]], no Brasil. Mais tarde, em 1715 a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico. Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], da Bahia e também de [[Pernambuco]]) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de [[Cassanje]].
Na África, o resultado do sistema escravagista foi devastador. Comunidades que antes conviviam pacificamente se militarizaram e travaram guerras infindáveis.
Enquanto durou a escravidão, os escravos, assim "produzidos", eram vendidos em feiras e exportados.
Depois, os antagonismos étnicos entre os capturados e os captores se acentuaram, de forma que mesmo após a retirada dos últimos colonizadores, já no final do século XX, as guerras continuaram ocorrendo.


No {{séc|XVIII}}, a [[cachaça]] brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas trocas, sendo valorizado tanto em [[Angola]] quanto no Brasil. Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas europeias, como uma das principais moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por [[Lisboa]], o que elevava seu preço e reduzia sua liquidez. Outro produto brasileiro valorizado na África era o fumo de corda de Salvador.
Houve mais interferências externas. O empresário inglês Cecil Rhodes, por exemplo, investiu largamente em mineração, e fundou o estado da [[Rhodésia]], depois dividido em Rhodésia do sul e Rhodésia do norte, hoje [[Zâmbia]] e [[Zimbábue]].
Queria formar um império inglês.
Mais tarde, o problema foi agravado, e generalizado, pelo fato de a África ter sido dividida em países artificiais, forjados pela régua dos burocratas da [[Organização das Nações Unidas]] (ONU) após a [[Segunda Guerra Mundial]].
Sem levar em conta a cultura local, a ONU subjugou ao tacão de líderes não reconhecidos como tal, povos com hábitos, idiomas e economias diversas.


=== A crise em Portugal ===
Outras circunstâncias contribuíram para que a África chegasse ao século XXI como o continente mais pobre, injusto e desigual do planeta.
Em 1755, [[Portugal]] foi abalado por um terremoto e começou a perder o controle do tráfico. Na tentativa de reverter a situação, em 1761 foram editadas leis que obrigavam os navios a fazer escala em [[Lisboa]] ou em uma alfândega em Luanda. Mas, até 1769, apenas quatro navios haviam seguido as novas leis. O que levou à construção de presídios para abrigar os desobedientes.
Uma delas foi a introdução de mercadorias estrangeiras, ainda no tempo colonial, que provocou a ruína do sistema de produção local.

Em Angola, o sistema do sobado entrou em decadência com a implantação de plantations.
No continente africano, a submissão das populações também já não era tão simples como no passado. Povos do interior começaram a organizar ataques com armas obtidas no comércio realizado no litoral do [[Atlântico]]. Tentou-se inclusive, embora sem sucesso, constituir uma cavalaria em [[Angola]].
Outros centros comerciais próximos ao Rio Kwanza, como o [[Dongo]], passaram a comercializar borracha, cera, café, amendoim e outros produtos demandados pelos europeus – em detrimento da produção de bens de subsistência essenciais para a população.

Em Fevereiro de 1761, no reinado de D.José I, foi proibida a importação de escravos em Portugal Continental e na Índia, não por razões humanitárias, mas por serem mão de obra necessária no Brasil. . Ao mesmo tempo foi estimulado o comércio de escravos negros ("as peças", nos termos daquele tempo) para aquela colónia, tendo sido fundadas, com o apoio e envolvimento direto do [[Marquês de Pombal]], duas companhias - a [[Companhia do Grão-Pará e Maranhão|Companhia do Grão-Pará e Mara­nhão]] e a [[Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba]] - cuja atividade principal era precisamente o tráfico de escravos, na maioria africanos, para terras brasileiras. Na lista de acionistas das duas companhias contavam-se , além do Marquês, muitos nobres e clérigos.<ref>{{citar livro|título=O Marquês de Pombal e a sua época|último=Azevedo|primeiro=J. Lucio de|publicado=Annuario do Brasil|ano=1922|página=332|}}</ref><ref>{{citar livro|título=Escravos e Traficantes no Império Português: O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX|ultimo=Caldeira|primeiro=Arlindo Manuel|editora=A Esfera dos Livros|ano=2013|páginas=219-224}}</ref><ref name=":9">{{citar web|ultimo=Ramos|primeiro=Luís O.|url=https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/7680/2/3108.pdf|titulo=Pombal e o esclavagismo|data=1971|website=Repositório Aberto da Universidade do Porto}}</ref> Entre 1757 e 1777, foram importados um total de 25 365 escravos negros para o Pará e Maranhão, vindos dos portos oeste-africanos.<ref>{{citar livro|título=O Império colonial português (1415-1825)|ultimo=Boxer|primeiro=Charles|editora=Ediçoes 70|ano=1969|página=191}}</ref>

=== Os reflexos nas sociedades ===
As medidas protecionistas adotadas por Portugal afastaram os negociantes brasileiros para outros portos menos controlados, e a exclusão do intermédio português no tráfico então foi conquistada. Tendo os comandantes da [[marinha portuguesa]], que apreendem os navios negreiros, sido premiados pelo [[Reino de Portugal]]<ref>[https://run.unl.pt/bitstream/10362/16062/1/AHAM%20I_2000.pdf [A Armada Portuguesa no Combate ao Tráfico de Escravos em Angola (1839-1865), João Pedro Marques, Anais de História de Além-Mar, n.1, 2000]</ref>. Em 1840, cessa o tráfico através de Luanda, e brasileiros tocam as últimas décadas de comércio escravo.

A escravização de populações africanas começou a perder fôlego quando, no início do XIX, ingleses e franceses abandonam o tráfico e começam a pressão para sua extinção.

Até quando os ingleses passaram a afundar os [[navio negreiro|navios negreiros]] que cruzavam o Atlântico, as fazendas que produziam café no sudeste do Brasil ainda usavam mão de obra escrava proveniente da [[África]] ou descendente de escravos africanos.


== Omissão e falsificação da História ==
O resultado dessa história milenar de exploração e injustiça são as [[Guerra civil|guerras civis]] e a extrema pobreza em que o continente chafurda até os dias atuais.
Os factos referentes à escravidão, a "instituição embaraçosa", têm sido, ao longo dos tempos, minimizados, omitidos ou mesmo negados por várias civilizações. Alguns europeus culpam as influências islâmicas pela persistência da escravatura no mundo cristão medieval; por seu turno, escritores muçulmanos sentem-se constrangidos por o Islão ter aceite a escravidão por tanto tempo, sem que qualquer movimento de massas surgisse a defender a abolição. <ref>{{citar livro|título=Islam and the Abolition of Slavery -|ultimo=Clarence-Smith|primeiro=Wlliam G.|editora=Hurst & Company|ano=2006|páginas=1-2}}</ref>


A defesa de crenças religiosas, manobras políticas, interesses financeiros, egoísmo, um mecanismo de defesa contra ideias ou factos incómodos<ref>{{Citar web|ultimo=Humbling|primeiro=David|url=https://web.archive.org/web/20091126155807/http://www.forteantimes.com/strangedays/science/2158/abominable_no_men.html|titulo=Abominable 'No' Men {{!}} Science {{!}} Strange Days {{!}} Fortean Times UK|data=2009-11-26|publicado=Fortean Times (Arq. em WayBack Machine)}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Kahn-Harris|primeiro=Keith|url=http://www.theguardian.com/news/2018/aug/03/denialism-what-drives-people-to-reject-the-truth|titulo=Denialism: what drives people to reject the truth|data=2018-08-03|publicado=The Guardian|lingua=en}}</ref> a vontade de não reacender velhos conflitos, que poderiam provocar o caos, o orgulho, o [[nacionalismo]], todos desempenham um papel nesse negacionismo e omissão; as [[ditadura]]s também não costumam permitir análises históricas isentas. Durante a [[António de Oliveira Salazar|ditadura salazarista]], a escravatura não era tema; mesmo após o [[Revolução de 25 de Abril de 1974|25 de Abril de 1974]], é abordada por alto nos manuais escolares.<ref>{{Citar web|ultimo=Carlos|primeiro=João|url=https://www.dw.com/pt-002/livros-escolares-em-portugal-banalizam-a-escravatura-e-o-colonialismo-em-%C3%A1frica/a-39195159|titulo=Livros escolares em Portugal banalizam a escravatura e o colonialismo em África|data=10 de Junho de 2017|publicado=DW}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Câncio|primeiro=Fernanda|url=https://www.dn.pt/sociedade/o-que-sabem-os-portugueses-do-seu-passado-colonial-6257659.html|titulo=Passado Colonial. ″Não sabemos o lado verdadeiro da nossa história″|data=1 de maio de 2017|publicado=Diário de Notícias}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Rolão|primeiro=Paulo|url=https://nationalgeographic.pt/historia/actualidade/1006-o-trafico-negreiro-na-historia-dos-descobrimentos|titulo=O tráfico negreiro na história dos Descobrimentos|data=22 de Novembro de 2016|publicado=National Geographic}}</ref>
=== Conclusão ===
A [[escravatura]] foi determinante na conformação das sociedades brasileira e africana.


Em Agosto de 2018, no Qatar, a [[Al Jazeera]] amputou a série documental ''Rotas da Escravatura'', um série europeia conjunta do canal francês Arte, [[Rádio e Televisão de Portugal|RTP]] e LX Filmes. Todo o primeiro episódio, que versava sobre ''"o processo que levou o Império Muçulmano a tecer de forma duradoura uma imensa rede de tráfico de escravos pela África, Médio Oriente e Ásia"'' foi eliminado. Em troca, a rede de televisão afirmou que a escravatura em África foi uma prática fundada pelos portugueses.<ref>{{citar web |ultimo=Tavares |primeiro=Pedro Sousa |url=https://www.dn.pt/mundo/interior/al-jazeera-corta-papel-dos-muculmanos-na-escravatura-e-culpa-portugueses--9731916.html |titulo=Al Jazeera corta papel dos muçulmanos na escravatura e culpa portugueses -Canal do Qatar elimina primeiro episódio de série documental, coproduzida pela RTP e LX Filmes, onde se falava do papel dos muçulmanos no tráfico de escravos. E diz que foram os portugueses a "estabelecer" este comércio |data=17 de Agosto de 2018 |acessodata= |publicado=Diário de Notícias}}</ref><ref>{{citar livro|título=Race and Slavery in the Middle East|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard|editora=Oxford University Press|ano=1990|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
Na [[África]], a exploração da mão de obra escrava, primeiro pelos árabes e depois pelos europeus, provocou uma desestruturação de enormes proporções.
== Ver também ==
* [[História da escravidão]]
* [[Berbéria]]
* [[Escravidão branca]]
* [[Francisco Félix de Sousa]]
* [[Guerras Berberes]]
* [[Piratas da Barbária]]
* [[Tráfico árabe de escravos]]
* [[Escravismo e Islã]]o


{{Referências|Col=2}}
No Brasil, criou uma situação social em que as oportunidades ao alcance dos afrodescendentes eram e, infelizmente, por vezes ainda o são diferentes do que as oferecidas aos eurodescendentes e aos originários da Ásia.


== Bibliografia ==
Nesse movimento, muitos dos povos africanos perderam sua cultura, sua liberdade, suas riquezas.
* Clarence-Smith, Wlliam Gervase - (2006) - ''Islam and the Abolition of Slavery'' -Hurst & Company
*Disney, Anthony R. (2009)-'' A History of Portugal and the Portuguese Empire From Beginnings to 1807 -Volume 2: The Portuguese Empire''- Cambridge University Press
* Gordon, Murray (1989) - ''Slavery in the Arab World.'' - New Amsterdam Books
* Lewis, Bernard (1990). ''Race and Slavery in the Middle East.'' - Oxford University Press
* Lovejoy, Paul E. (2012) - ''Transformations of Slavery: A History of Slavery in Africa''-Cambridge University Press.
* N'Diaye, Tidiane (2008) - ''O Genocídio Ocultado - Investigaçao histórica sobre o tráfico negreiro árabo-muçulmano'' - Gradiva
* National Geographic Brasil. Edição especial. Setembro 2005 – ''África, Pigmeus de Ituri, Expedição Megaflyover, Nairóbi, Aids, Animais ameaçados.''
* Nasr, Helmi (tradutor)- (2019) -''Tradução do sentido do nobre Alcorão para a língua portuguesa'' - Complexo do Rei Fahd para imprimir o Alcorão Nobre
* Segal, Ronald (2001) - ''Islam's Black Slaves: The Other Black Diaspora'' - Farrar, Straus and Giroux


A história mostra que há pontos de inflexão, em que as transformações se mostram inevitáveis, e ocorrem em processos pacíficos ou por revoluções.
No entanto, como afirmou o economista Celso Furtado, "... as observações que vimos de fazer referem-se a simples hipóteses escolhidas em um campo aberto de possibilidades históricas. Por exemplo: é possível que se prolongue por muito tempo a fase de estagnação..."<ref>Furtado, Celso. Formação Econômica da América Latina. 2a ed. Rio de Janeiro: Lia, 1970 p.&nbsp;365</ref>.


{{Referências}}


== {{Ver também}} ==
== Ligações externas ==
* [https://run.unl.pt/bitstream/10362/16062/1/AHAM%20I_2000.pdf [A Armada Portuguesa no Combate ao Tráfico de Escravos em Angola (1839-1865), João Pedro Marques, Anais de História de Além-Mar, n.1, 2000]
* [[Escravidão]]


{{Guiné-Bissau/Tópicos}}
== {{Bibliografia}} ==
{{Portal3|Escravidão}}
* MONTEIRO e ROCHA, Fernando Amaro ao século XIX. O testemunho dos manuscritos, impérios subsaharianos, pp 15–50.
* SILVA, Alberto da Costa – Os estudos de história da África e sua importância para o Brasil, A dimensão atlântica da África, II Reunião Internacional de História da África, São Paulo, CEA-USP/SDG-Marinha/CAPES, 1997, pp 203–219.
* A manila e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002, *Cap. 9, O Benin e o delta do Níger, pp 309–357; *Cap. 11, Angola, pp 407–450; *Cap. 18, Na Zambézia, pp 657–701.
* Francisco Félix de Souza, mercador de escravos, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: EdUERJ, 2004, *Cap. 2 a 6, pp 19–70.
* SOUMONNI, Elisée – *A compatibilidade entre o tráfico de escravos e o comércio do dendê no Daomé, 1818-1858, Daomé e o mundo atlântico, Rio de Janeiro, UCAM (Universidade Cândido Mendes), CEAA (Centro de Estudos Afro-Asiáticos) e Amsterdam, SEPHIS (South-South Exchange Programme for Research on the History of Development), 2001, pp 61–79.
* FERREIRA, Roquinaldo – Dinâmica do comércio intracolonial: geribitas, panos asiáticos e guerras no tráfico angolano de escravos (século XVIII), O antigo regime nos trópicos. A dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII), organizadores João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, Cap 11, pp 339–378.
* DIAS, Jill R. - O Kabuku Kambilu (c.1850-1900): uma identidade política ambígua, Actas do Seminário Encontro de Povos e Culturas em Angola, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, pp 13–53.
* National Geographic Brasil. Edição especial. Setembro 2005 – África, Pigmeus de Ituri, Expedição Megaflyover, Nairóbi, Aids, Animais ameaçados.


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Edição atual tal como às 11h11min de 3 de junho de 2024

Transporte de escravos na África. Gravura de 1890

O estudo do processo de escravização dos povos africanos é essencial para que se compreenda a história atual de desigualdade no planeta. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas, embora por vezes num grau de civilização inferior. Demonstra também que a desestruturação econômica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração.

Do ponto de vista econômico, a escravidão foi uma forma eficiente de acumulação primitiva. Parte do atual contexto socioeconômico da África de miséria e exclusão é consequência de fatos passados. Muitos analistas comparavam a escravidão africana em menor escala associada a servidão linhageira com as economias orientais.[1] A escravatura na África contemporânea ainda é praticada, apesar de ilegal. [2]

Escravidão na África: uma antiga forma de exploração

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A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com os europeus na costa atlântica.[3][4]

Desde por volta de 700, prisioneiros capturados nas guerras que expandiram o Islã da Arábia pelo norte da África e através da região do Golfo Pérsico eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado.

O histoiriador canadiano Paul Lovejoy apresenta o conceito de modo de produção escravista (de E. Terray [quem?]) como fundamental para uma compreensão mais completa do funcionamento político, econômico e social da África[5] - e também das colônias nas Américas. Segundo sua definição, o modo de produção baseado na escravidão é aquele em que predominam a mão de obra escrava em setores essenciais da economia; a condição de escravo no mais baixo nível da hierarquia social; e a consolidação de uma infraestrutura política e comercial que garanta a manutenção desse tipo de exploração.[5]

Formas de escravidão

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"Desde os tempos mais antigos, alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos e inferiores. A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenação por transgressão e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. [...] A escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico."

SOUZA, 2006, p. 47 apud MOCELLIN; CARMARGO, 2010, p. 174.(Referência insuficiente)

Múltiplas formas de escravidão e servidão involuntária existiram na história africana e foram formadas pelas práticas nativas de escravidão assim como a instituição de escravidão romana [6] (e depois a visão cristã sobre a escravidão), a visão islâmica da escravidão por meio do Tráfico de Escravos Islâmico e por último o tráfico de escravos do Atlântico para as Américas.[7][8] A escravidão foi parte da estrutura econômica por muitos séculos, ainda que a extensão variasse.[9] [8] Ibne Batuta, que visitou o antigo Império do Mali em meados do século XIV, descreve que os habitantes locais viam uns aos outros de acordo com o número de escravos e servos que tinham, e ele mesmo ganhou um garoto escravo como um "presente de hospitalidade."[10]

Na África subsariana, as relações de escravos eram muitas vezes complexas, com diferentes níveis de direitos e liberdades dadas aos indivíduos mantidos em escravidão e restrições a venda e tratamento pelos seus mestres escravagistas. Muitas comunidades tinham hierarquias entre diferentes tipos de escravos: por exemplo, diferenciando entre aqueles que nasceram na escravidão e aqueles que foram capturados e guerra.[11] Diferentemente do que se pensava, a escravidão na África não era realizada somente com cunho doméstico.[4] As relações entre escravagistas e escravos, tanto nas Américas como na África, sempre se basearam em punições disciplinares, castigos e violência. Os capturados eram retirados de suas terras, separados de suas famílias, obrigados a aprenderem outros idiomas e costumes além de terem sido humilhados e torturados, o escravo se encontra em posição de subordinação e nunca tratado em igualdade, questionando a visão de que seriam formas mais brandas com todas as formas de escravidão sendo violentas e desumanizadoras.[4] Segundo a historiadora Marina de Melo e Souza, a escravidão africana é cruel e desumanizadora.[12]

As formas de escravidão na África eram fortemente relacionadas com as estruturas de parentesco.[13] Em muitas comunidades africanas, onde a terra não poderia ser mantida como propriedade privada, a escravidão de indivíduos era usada como forma para aumentar a influência de uma pessoa tinha e expandir suas conexões.[14] Isso fez com que os escravos se tornassem parte da linhagem de um mestre e os filhos dos escravos se tornavam bem conectados com os laços de família maiores em diversos casos. [8] [15] Crianças de escravos nascidos nas famílias poderiam ser integrados ao grupo de parentesco do mestre e subir para posições proeminentes na sociedade, até ao nível de chefe em algumas instâncias.[11] No entanto, o estigma frequentemente continuava aderido e poderia haver separações estritas entre membros escravos de um grupo de parentesco e aqueles relacionados com o mestre.[14]

Durante o tráfico transaariano de escravos, os escravos da África Ocidental eram transportados através do deserto do Sara até ao Norte de África para serem vendidos às civilizações do Mediterrâneo e do Médio Oriente. Os eunucos eram necessários para a guarda dos haréns, como criados, como funcionários do palácio e também como guardiães de mesquitas, túmulos e outros locais sagrados. As mulheres escravas eram principalmente concubinas ou simples servas. Um proprietário de escravos tinha direito legal ao usufruto sexual das suas escravas. Embora as mulheres livres pudessem possuir escravos do sexo masculino, não lhes era admitido, obviamente, direito equivalente.[16]

Na Carta de Curucã Fuga, (1235) a constituição do Império do Mali, reconstruída a partir da tradição oral, veementemente proíbe maus-tratos ao escravo em seu artigo 20.[17] Muitos dos povos africanos adotaram o Islã que, por sua vez, prescreve aos religiosos tratar os escravos “generosamente” (Alcorão, Sura An-Nissa, 36) e considera, embora não ordene, a alforria como um gesto merecedor e uma obra de beneficência ( Alcorão, Sura Al-Baqarah, 177). Vários escravos, em especial os escravos militares, puderam, assim, alcançar posições de poder e influência; outros, a maioria, viviam e morriam em condiçoes terríveis nas minas, drenagem de pântanos e outros trabalhos esgotantes; nas minas de sal do Saara nenhum escravo teria uma esperança de vida de mais de cinco anos.[18] No Egito temos o exemplo de Abul Misque Cafur, originalmente um escravo negro de origem etíope que se tornou regente do Egito.[19] Em Marrocos, destaca-se o político ibne Marjã (d. 1728), um eunuco negro encarregado da tesouraria, bem como dos servos negros no palácio durante a vida do Mulei Ismail.[20] No Império do Mali, Mansa Sacura (r. 1285–1300), escravo de nascimento, foi libertado e tornou-se um general do exército de Sundiata Queita posteriormente nomeando-se o sexto imperador do império mande.[21] No entanto, foi a criação do tráfico de escravos muçulmano que ampliou as dimensões do comércio de escravos que antes era de pequena dimensão entre os africanos.

Escravos como propriedade

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Atestado de compra de 467 escravos em Moçambique, com destino a Santos, a mando de Antônio da Silva Prado. APESP

A escravidão em que os escravos são tratados como uma propriedade do mestre é uma forma específica de escravidão.[22] Assim sendo, o dono é livre para vender, comercializar ou tratar o escravo como ele faria como outras propriedades suas e os filhos dos escravos eram mantidos como propriedades dos mestres (a semelhança da escravidão de negros nas Américas). Existem evidências da longa história dessa prática de escravidão com os escravos sendo propriedades no Vale do Rio Nilo, grande parte do Sahel e Norte da África, as evidências sobre a extensão dessa prática no resto do continente (África sub-saariana) vêm principalmente dos relatos escritos de mercadores árabes e europeus sobre a forma que existia antes do contato com eles, com poucos registros escritos antes desses relatos, as novas evidências arqueológicas demonstram que provavelmente era uma forma comum e muito abusiva de escravidão.[23] Relatórios apontam que essa prática continua na África do Norte islâmica em países como o Sudão e Mauritânia (apesar de ambos os países participarem da Convenção sobre a Escravidão da ONU de 1956), um desses casos é o de Francis Bok que foi sequestrado e usado como escravo em 1986 após sua vila no sul do Sudão ter sido atacada, ele foi escravizado por 10 anos no norte do Sudão até fugir. O Sudão nega a existência continuada da escravidão no seu terrritório.[24]

Serviço doméstico

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"Os escravos na África, eu suponho, estão em proporção de três para cada homem livre. Eles não reivindicam recompensa pelos seus serviços exceto comida e roupas, e são tratados com gentileza ou severidade, de acordo com a boa ou má disposição de seus mestres. O costume, no entanto, estabeleceu certas regras com relação ao tratamento de escravos, o que seria desonroso violar. Portanto, os escravos domésticos ou nascidos na própria casa de um homem, são tratados com maior leniência do que aqueles comprados com o dinheiro. ... mas essas restrições no poder do mestre não se estende ao tratamento dos prisioneiros tomados em guerra, nem aos escravos comprados com o dinheiro. Essas pobres criaturas são consideradas estranhas e estrangeiros, que tem nenhum direito a proteção pela lei e podem ser tratadas com severidade, ou vendidas a um estranho, de acordo com o bel prazer de seus donos."

Viagens ao interior da África, Mungo Park, Travels in the Interior of Africa v. II, Chapter XXII – War and Slavery.

Muitas relações de escravos na África giravam em torno da escravidão doméstica, onde escravos trabalhariam primariamente na casa do mestre, mas reter algumas liberdades.[25] Escravos domésticos poderiam ser considerados parte do vínculo doméstico do mestre e não seriam vendidos a outros sem causa extrema.[26] Os escravos nesse sistema poderiam ter lucros do seu trabalho (em forma de terra ou produtos) e podiam casar e passar sua terra para seus filhos em muitos casos.[11][27] Na África Ocidental, o jonya (do termo mande jon, que significa cativo) era um escravo ligado a uma linhagem. Nas sociedades em que reinou esse sistema, ele pertencia a uma categoria sociopolítica integrada a classe dominante; era então cidadão exclusivo do Estado e pertencia a seu aparelho político. Enquanto sistema e categoria social,o jonya desempenhou um papel considerável e original nos Estados e impérios de Gana, Tacrur, Mali, Canem, Axânti e Iorubá.[28] Os soberanos sudaneses também importavam escravos. Ibne Batuta nos relatou que quando o imperador do Mali sentava no trono em praça pública, atrás dele postavam-se cerca de 30 mercenários mamelucos, comprados para ele no Cairo.[29]

Também havia os worossos que eram escravos "nascidos no meio" descendentes dos jons (escravos capturados ou comprados) sendo que ambas as classes de escravos tinham direito de trabalhar em seu próprio benefício por determinado período. Era possível para eles juntar sua própria propriedade pessoal havendo, inclusive, o termo 'jon ma jon' para definir o escravo pertencente a outro escravo.[30]

Escravidão por dívida ou penhor

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Escravidão por dívidas por penhor usando pessoas como garantia para o pagamento de dívidas.[4][31] Nessa forma o trabalho escravo é feito pelo devedor ou um parente do devedor (geralmente uma criança).[32] Penhor era uma forma comum de garantia na África Ocidental.[33] Envolvia o penhor de uma pessoa ou membro da família servindo outra pessoa provendo crédito.[34] O penhor era relacionado, no entanto distinto, da escravidão na maioria das conceptualizações pois o arranjo poderia incluir termos específicos ou limitados de serviço que seriam providos,[35] e porque os laços de parentesco protegeriam a pessoa de ser vendida para a escravidão.[35] Antes do contato com europeus o penhor era uma prática comum na África Ocidental praticada por povos como os acãs, jejes, Gas, Iorubás e os Edos[36](em formas modificadas também existiu entre os efiques, Ibos, os ijós e os Fons).[37][38][39]

Escravidão militar

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O sultão Mulei Ismail rodeado da sua Guarda Negra (quadro de Eugène Delacroix)

Escravidão militar envolvia a aquisição e treinamentos de unidades militares conscritas que iriam reter a identidade de escravos militares mesmo após o seu serviço.[40] Escravos soldados eram comandados por um patrono, que poderia ser um chefe de governo ou um senhor da guerra independente, e que iria enviar as suas tropas por dinheiro ou seus interesses políticos.[40]

Era uma forma mais significante no Vale do Rio Nilo (primariamente no Sudão e Uganda), com unidades de escravos militares organizadas por várias autoridades islâmicas,[40] e com senhores da guerra da África Ocidental.[41] As unidades militares no Sudão foram formadas no século XIX por invasões e campanhas militares em larga escala nos atuais Sudão e Sudão do Sul.[40]

Além disso, um número considerável de homens nascidos entre 1800 e 1849 em regiões da África ocidental (atual Gana e Burkina Faso) foram sequestrados para servir no exército das Índias Orientais Neerlandesas.[42] Interessantemente, escravos soldados eram em média 3 cm mais altos que a população média da África ocidental.[43] Além disso, mostrou que eles eram mais baixos que europeus do norte e quase da mesma estatura que os europeus do sul.[44] Isso estava relacionado principalmente na qualidade da nutrição e cuidados de saúde.[45]

Segundo as crônicas árabes, os regimentos negros, chamados ‘abid al-shira’ (escravos comprados), tornaram-se um importante elemento dos exércitos fatímidas. Eles conquistaram um papel principal no reinado do califa fatímida Almostancir do Cairo (r. 1036–1094), graças ao indefectível apoio que lhes foi conferido pela mãe do califa, escrava sudanesa de muito caráter. No apogeu de sua potência, eles eram 50 000.[carece de fontes?]

Escravos negros também alcançaram destaque na Índia, tendo sido Maleque Ambar o mais notável deles sendo referido como o guru da guerrilha Marata.[46]

Escravidão por tributo

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De um outro modo, os escravos eram também obtidos por tributo de regiões vassalas.[47]

Cerca do ano de 652, e após vários anos de guerra, o reino cristão da Núbia concluiu um acordo de paz com o califado Rashidun. É conhecido como um dos tratados de paz mais antigos da história, foi respeitado por quase sete séculos e permitiu a coexistência pacífica entre o Egito muçulmano e a Núbia cristã.[48][49][50]

Conforme o tratado, conhecido como Tratado Baqt (o termo baqt significando ele mesmo tratado), a Núbia era forçada a entregar anualmente "trezentos e sessenta cabeças de escravos ao Imã dos muçulmanos. Devem ser escravos de boa qualidade do seu país,sem defeito, tanto masculinos como femininos, nem extremamente velhos nem crianças menores de idade. Os que entregará ao governador de Assuão. "[51]

Os termos exactos do acordo, cuja versão original se perdeu, não são conhecidos. Existem várias cópias, datadas de vários séculos depois, com algumas diferenças entre elas; conforme algumas versões, a parte muçulmana obrigar-se-ia também a fornecer, em troca dos escravos negros, cereais, tecidos e vinhos, o que suporia um acordo em pé de igualdade.[48]

Escravos para sacrifício

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Escravos para sacrifício nos Costumes Anuais de Daomé – do livro A História de Daomé, um reino no interior da África, de Archibald Dalzel, 1793.

Sacrifício humano era comum nos estados da África Ocidental até e durante o século XIX.[52] Embora as evidências arqueológicas não sejam claras sobre o assunto antes dos registros europeus, nas sociedades que praticavam sacrifícios humanos, os escravos eram as vítimas mais proeminentes. [8] [53]

Os Costumes Anuais de Daomé eram o mais notório exemplo de sacrifício de escravos, onde 500 prisioneiros eram sacrificados. Sacrifícios eram realizados por toda a costa da África Ocidental até o interior. Sacrifícios eram comuns no Reino do Benim, no que hoje é a Gana, e nos pequenos estados independentes do que hoje é o sul da Nigéria. Na região Axante, sacrifícios humanos eram frequentemente combinados com pena capital.[54][55][56]


Tráfico local de escravos

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Muitas nações como Estado de Bono, Império Axante no atual Gana e os iorubás da atual Nigéria estavam envolvidos no comércio de escravos.[57] Grupos como os Mbangalas da Angola e o povo Nyamwezi da Tanzânia serviam como intermediários de bandas errantes, travando guerras contra estados africanos para capturar a população e exportar como escravos.[58] Os historiadores John Thornton e Linda Heywood da Universidade de Boston estimaram que dos africanos capturados e vendidos como escravos para as Américas no Tráfico de escravos do Atlântico,[59] cerca de 90% foram escravizados por outros africanos e vendidos aos mercadores europeus.[60] Henry Louis Gates, cátedra da Universidade de Harvard dos estudos africanos e afro-americanos, declarou que "sem as complexas parcerias nos negócios entre as elites africanas com mercadores e agentes comerciais europeus,[61] o tráfico de escravos para o Novo Mundo seria impossível, ao menos não na escala em que ocorreu."[60] O tráfico trouxe também, a deterioração das relações de vizinhança dos povos do litoral com os povos do interior.[62]

O grupo étnico inteiro dos Bubis descende de escravos intertribais de vários grupos étnicos da antiga África central e ocidental que escaparam.[63]

Escravidão na Etiópia

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Escravos na Etiópia, século XIX
Ver artigo principal: Escravidão na Etiópia

A escravidão na Etiópia foi um fenômeno integrante da sociedade etíope desde sua formação até o século XX. Os escravos eram tradicionalmente retirados dos grupos nilóticos que habitavam o interior do sul da Etiópia, bem como grupos de língua omótica. do sudoeste. [64] Prisioneiros de guerra eram outra fonte de escravos, embora o tratamento e deveres desses escravos fosse marcadamente diferente em comparação aos demais.[65] Os escravos também eram vendidos no exterior como parte do tráfico árabe de escravos, servindo como concubinas, guarda-costas, servos e tesoureiros.[66]

A escravidão na Etiópia foi abolida pela primeira vez durante o período de ocupação italiana, com a emissão de duas leis em outubro de 1935 e abril de 1936. O governo italiano aboliu a escravidão como -- além de libertar o povo etíope da escravidão -- justificativa moral e válida para a sua população e a comunidade internacional para a inclusão da Etiópia no seu império colonial. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a recém-restaurada monarquia etíope, em resposta à pressão dos invasores aliados, aboliu oficialmente a escravidão e a servidão involuntária em 26 de agosto de 1942.[67]

Escravidão no Songai

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O Império Songai (cerca de 1500)

O comércio de escravos foi muito importante no Império Songai. Os escravos eram muitas vezes usados ​​como soldados, e foram muito honrados e dignos de confiança. Escravos palacianos eram chamados Arbi. Arbis trabalhavam como músicos, artesãos, ceramistas, e muitos outros trabalhos artísticos. Os escravos também trabalhavam em fazendas para produzir alimentos que apoiavam moradores locais. Em algumas regiões eram empregados nas minas de ouro. Em muitas sociedades africanas, havia muito pouca diferença entre os camponeses livres e os camponeses vassalos feudais.[68] A maioria dos escravos vivia em suas próprias casas en famille. Logo, o mestre era obrigado a prover seu escravo com alguma parcela de terreno cultivável na qual ele poderia trabalhar por conta própria, e lhe era permitido um ou dois dias livres na semana onde ele poderia trabalhar em sua própria fazenda ou em qualquer outra ocupação remunerada, ao invés de trabalhar na fazenda gandu de seu senhor.[69]

Comércio árabe transaariano e no Oceano Índico na Idade Média

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Ver artigo principal: Escravismo e Islã
Principais redes de tráfico árabe de escravos em África na Idade Média

O comércio de escravos transaarianos, que já existira na Antiguidade, continuou durante a Idade Média.

Após o surgimento do Islão, foi proibido a um muçulmano escravizar outro muçulmano. A partir daí, os escravos tiveram de ser procurados fora das fronteiras do império -- em África, mas também nos países eslavos, no Cáucaso ou na Península Ibérica -- por captura, compra ou tributo. [70][71] Disso resultou um enorme desenvolvimento do comércio de escravos, que se manteve durante mais de uma dezena de séculos.[71]

Gravura do século XIX representando uma caravana árabe de comércio de escravos transportando escravos africanos negros através do Sara. O comércio de escravos transaariano desenvolveu-se nos séculos VII e VIII, atingiu o seu auge em meados do século XIX e manteve-se no século XX.

Este comércio de escravos durou muito mais tempo do que o comércio atlântico de escravos ou europeu: começou em meados do século VII e sobrevive ainda hoje em alguns países como a Mauritânia e o Sudão. Diz-nos Ronald Segal que "enquanto a proporção de géneros de escravos no comércio atlântico era de dois machos para cada fêmea, no comércio islâmico, eram duas fêmeas para cada macho". Um número muito elevado de escravos era utilizado para fins domésticos, incluindo serviços sexuais. [72]

As caravanas conduziam os escravos, em grupos que atingiam milhares, através do deserto do Sahara para os seus destinos, ou pelas outras rotas não principais do Oceano Índico e do Mar Vermelho. Por si só, a travessia perigosa do Sahara era fatal para um grande número dos escravizados já enfraquecidos.[73]Após a chegada aos destinos, verificava-se uma elevada taxa de mortalidade em todas as classes de escravos, incluindo os comandantes militares. Vindos principalmente de lugares remotos, e sem imunidade natural, morriam fácilmente de doenças endémicas ou epidémicas. [74]

Monumento em homenagem aos escravos em Zanzibar.

Uma grande parte dos escravos masculinos eram eunucos, empregados na guarda dos haréns, que com as conquistas islâmicas atingiram grandes proporções. O processo de castração, feito em crianças e adolescentes, e que no caso dos negros era habitualmente remoção total, provocava um elevado número de mortos devido a infeções, por isso os eunucos atingiam elevados preços no mercado.[75][76] Tidiane N'Diaye, escritor e antropólogo franco-senegalês, considera a castração forçada de milhões de escravos um verdadeiro genocídio, visando a eliminação dos negros, depois de explorados e assassinados.[77]

O número de escravos enviados através do Saara, do Mar Vermelho e do Oceano Índico é difícil de apurar, mas a escala deste comércio foi também enorme. Estimativas aproximadas da escala do comércio de escravos sugerem que cerca de dezassete milhões e meio de pessoas foram retiradas pela força de África entre 1500 e 1900; destas mais de 70% foram para as Américas e o resto para as regiões muçulmanas do Norte de África, Médio Oriente e do mundo do Oceano Índico. Estas estimativas não incluem o número de escravos enviados para o mundo muçulmano antes de 1500, que foi considerável, nem depois de 1900.[78]

Presença europeia na costa atlântica e o comércio de escravos

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Ver artigo principal: Comércio atlântico de escravos

Muitas tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus.[5] Nas razias, quando as comunidades eram invadidas, as pessoas eram capturados por grupos armados e, depois de serem levadas até entrepostos no litoral africano, eram trocadas com os traficantes por mercadorias. Os navios negreiros saíam do Brasil provisionados com alimentos para a viagem, além dos gêneros utilizados para a troca, como aguardente de cana, armas dos mais variados tipos, gêneros manufaturados e alimentos.

Em Agosto de 1415, deu-se a captura de Ceuta, um passo importante da expansão portuguesa. Os motivos para a conquista eram vários: o espírito de cruzada religiosa, conforme o tom da época, mas também os fatores económico, estratégico e político.[79]

As primeiras vítimas do comércio de escravos português não foram porém africanos, mas sim os habitantes originais das Canárias, um povo de origem berbere. Raides para obtenção de escravos já estariam em curso em 1346.[80]

No início da década de 1440, os portugueses já tinham começado a fazer razias por escravos em solo africano e fazendo trocas por ouro em pó, primeiro no Rio do Ouro, na costa do Sahara Ocidental, depois na ilha de Arguim, ao largo da Mauritânia. Para os portugueses, escravos e ouro já se tinham tornado a atração fundamental da África Atlântica. Foi em Arguim que em 1449-1450 foi construída a primeira feitoria portuguesa em terras africanas, que adquiriria grandes quantidades de ouro.[81]

Cedo se tornou evidente que os escravos, em vez de serem caçados, poderiam ser obtidos muito mais facilmente na própria feitoria ou mais a sul, através do comércio de escravos já existente. O Infante D. Henrique, achando as duas actividades ultimamente incompatíveis, em 1448 proibiu as razias em busca de escravos em qualquer lugar a sul do Cabo Bojador. Até cerca do fim do Século XV, um número de mil escravos por ano passavam na feitoria de Arguim, cuja maior parte acabava em Lisboa, Algarve ou Madeira.[81]

Em Agosto de 1444, chegou a Lagos o primeiro grande grupo de duzentos e trinta e cinco escravos africanos, capturados a sul do Cabo Branco. O desembarque foi presenciado pelo próprio Infante D. Henrique, a quem caberia um quinto da mercadoria humana. Não era, no entanto, a primeira vez que chegavam a Lagos escravos da costa africana, embora nunca em tão grande número. Desde cerca de 1441 que uma ou duas vezes por ano navios partiam em direção ao litoral da Mauritânia, onde por desejo de "honra e proveito" se faziam raides a aldeias ou caravanas de comércio.[82] Gomes Eanes de Zurara, cronista da corte de D. Afonso V, deixou-nos na sua Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné o relato comovido da venda e partilha dos 235 escravos:[83]

«Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados em lágrimas, olhando uns para os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguardando a altura dos céus, firmando os olhos em eles, bra­dando altamente, como se pedissem socorro ao Pai da natureza; outros feriam seu rosto com as palmas das mãos, lançando-se estendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto,segundo o costume de sua terra, nas quais, posto que as palavras da lin­guagem não pudessem ser entendidas dos nossos, bem correspondiam ao grau de sua tristeza.
Mas para seu dó ser mais acrescentado, sobrevieram aqueles que tinham cargo de partilha e começaram a apartá-los uns dos outros, a fim de pôr os seus quinhões em igualeza; onde convinha a necessidade de se apartarem os filhos dos pais, e as mulheres dos maridos e os irmãos uns dos outros. A amigos nem a parentes não se guardava nenhuma lei, somente cada um caía onde a sorte o levava! [ . . . ] Quem poderia acabar aquela partição sem mui grande trabalho? Que tanto que os tinham postos em uma parte, os filhos, que viam os pais na outra, alevantavam -se rijamente e iam-se para eles; as mães apertavam os outros filhos nos braços e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas, com pouca piedade de suas carnes, por lhes não serem tirados!»

Pela Bula Dum Diversas, de 18 de Junho de 1452, o papa Nicolau V autorizou o rei de Portugal D. Afonso V, e seu sucessores, a conquistar e subjugar as terras dos "infiéis", pagãos e outros "inimigos de Cristo" , reduzir as suas pessoas à escravatura perpétua, e "apropriar os seus reinos, ducados, palácios reais, principados e outros domínios, possessões e bens deste tipo a si e ao seu uso e aos seus sucessores, os Reis de Portugal." [84][85]

Portugueses muitas vezes se casavam com mulheres nativas e eram aceitos pelas lideranças locais.

Os investimentos na navegação da costa oeste da África foram inicialmente estimulados pela crença de que a principal fonte de lucro seria a exploração de minas de ouro, expectativa que não se realizou. Assim, consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de cerca de 11 313 000 indivíduos.

Em torno do comércio de escravos, estabeleceu-se o comércio de outros produtos, tais como marfim, tecido, tabaco, armas de fogo e peles . Os comerciantes usavam como moeda pequenos objetos de cobre, manilhas e contas de vidro trazidos de Veneza. Mas a principal fonte de riqueza obtida pelos europeus na África pode ter sido mesmo a mão de obra demandada nas colônias americanas e que pareceu-lhes uma boa justificativa para os investimentos em explorações marítimas que, especialmente os portugueses, vinham fazendo desde o século XIV. Dessa forma, embora no século XV os escravos fossem vendidos em Portugal e na Europa de maneira geral, foi com a exploração das colônias americanas que o tráfico atingiu grandes proporções.

O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. Paul Lovejoy faz uma descrição pormenorizada de diversos casos de escravidão. Igualmente ele chama a atenção para o caráter de relação de dependência inerente à escravidão, o indivíduo na situação de escravo ficava numa situação em que não tinha autonomia alguma e que dependia do seu senhor para suas necessidades mais fundamentais, como no caso de mulheres que se tornavam concubinas.[carece de fontes?]

Ilustração de 1815 representando um capitão britânico horrorizado ao ver cristãos escravizados em Argel (ver: Escravidão branca)

A preferência dos traficantes árabes por cativos do sexo feminino foi um fator decisivo para que, no início de seus negócios nessa área, os europeus comprassem muito mais homens do que mulheres. Outro fator importante foi a constatação de que os homens eram mais resistentes às péssimas condições de salubridade a que eram submetidos nas longas viagens de travessia do oceano Atlântico em navios negreiros. As populações de escravos, tanto em África como no mundo árabe ou nas Américas, tinham poucos meios de se sustentar por meio da reprodução biológica, o que gerava uma constante substituição dos escravos por novas levas e girava a máquina dos negócios dos traficantes. Dessa forma, "o trabalho escravo estava diretamente relacionado à consolidação da infraestrutura comercial que era necessária para a exportação de escravos".[carece de fontes?]

Resistência aos esclavagistas europeus

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É bastante citada a colaboração de africanos no tráfico de escravos europeu, mas habitualmente esquecida a oposição africana ao comércio. A escassez de fontes escritas não facilita o seu estudo.

Depois dos portugueses chegarem à costa da Senegâmbia em 1444 e lançarem ataques aos habitantes da costa, o Império do Mali contra-atacou, com embarcações rápidas e rasas. O Mandekalu - exército do Mali - infligiu uma série de derrotas aos portugueses devido aos seus arqueiros e ao seu uso de flechas venenosas. As derrotas obrigaram o rei de Portugal a enviar o seu cortesão Diogo Gomes em 1456 para negociar a paz. O esforço foi um sucesso em 1462, e o comércio tornou-se o foco de Portugal ao longo da Senegâmbia.[86]

Ver artigo principal: Escravidão em Angola

Na colônia de Angola, a exportação de mão de obra escrava pelo porto de Luanda terá sido alvo de competição no século XVII entre portugueses e holandeses.

É depois da disputa entre os colonizadores, cujo vencedor foi o reino de Portugal, que pode ter se originado a captura direta de escravos, nas chamadas Guerras Angolanas, no seio de certas tribos que tinham lutado contra os portugueses. Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão de obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no Nordeste, mas também a exploração de ouro na região central.

Navios com mercadorias de Goa faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas "fazendas de negros". Dali, seguiam para Salvador, na Bahia, carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul.

Os negócios foram se estruturando aos poucos. Num primeiro momento, os governadores da colônia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O pagamento era feito em ouro proveniente de Minas Gerais, no Brasil. Mais tarde, em 1715 a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico. Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do Rio de Janeiro, da Bahia e também de Pernambuco) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de Cassanje.

No século XVIII, a cachaça brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas trocas, sendo valorizado tanto em Angola quanto no Brasil. Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas europeias, como uma das principais moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por Lisboa, o que elevava seu preço e reduzia sua liquidez. Outro produto brasileiro valorizado na África era o fumo de corda de Salvador.

A crise em Portugal

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Em 1755, Portugal foi abalado por um terremoto e começou a perder o controle do tráfico. Na tentativa de reverter a situação, em 1761 foram editadas leis que obrigavam os navios a fazer escala em Lisboa ou em uma alfândega em Luanda. Mas, até 1769, apenas quatro navios haviam seguido as novas leis. O que levou à construção de presídios para abrigar os desobedientes.

No continente africano, a submissão das populações também já não era tão simples como no passado. Povos do interior começaram a organizar ataques com armas obtidas no comércio realizado no litoral do Atlântico. Tentou-se inclusive, embora sem sucesso, constituir uma cavalaria em Angola.

Em Fevereiro de 1761, no reinado de D.José I, foi proibida a importação de escravos em Portugal Continental e na Índia, não por razões humanitárias, mas por serem mão de obra necessária no Brasil. . Ao mesmo tempo foi estimulado o comércio de escravos negros ("as peças", nos termos daquele tempo) para aquela colónia, tendo sido fundadas, com o apoio e envolvimento direto do Marquês de Pombal, duas companhias - a Companhia do Grão-Pará e Mara­nhão e a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba - cuja atividade principal era precisamente o tráfico de escravos, na maioria africanos, para terras brasileiras. Na lista de acionistas das duas companhias contavam-se , além do Marquês, muitos nobres e clérigos.[87][88][89] Entre 1757 e 1777, foram importados um total de 25 365 escravos negros para o Pará e Maranhão, vindos dos portos oeste-africanos.[90]

Os reflexos nas sociedades

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As medidas protecionistas adotadas por Portugal afastaram os negociantes brasileiros para outros portos menos controlados, e a exclusão do intermédio português no tráfico então foi conquistada. Tendo os comandantes da marinha portuguesa, que apreendem os navios negreiros, sido premiados pelo Reino de Portugal[91]. Em 1840, cessa o tráfico através de Luanda, e brasileiros tocam as últimas décadas de comércio escravo.

A escravização de populações africanas começou a perder fôlego quando, no início do XIX, ingleses e franceses abandonam o tráfico e começam a pressão para sua extinção.

Até quando os ingleses passaram a afundar os navios negreiros que cruzavam o Atlântico, as fazendas que produziam café no sudeste do Brasil ainda usavam mão de obra escrava proveniente da África ou descendente de escravos africanos.

Omissão e falsificação da História

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Os factos referentes à escravidão, a "instituição embaraçosa", têm sido, ao longo dos tempos, minimizados, omitidos ou mesmo negados por várias civilizações. Alguns europeus culpam as influências islâmicas pela persistência da escravatura no mundo cristão medieval; por seu turno, escritores muçulmanos sentem-se constrangidos por o Islão ter aceite a escravidão por tanto tempo, sem que qualquer movimento de massas surgisse a defender a abolição. [92]

A defesa de crenças religiosas, manobras políticas, interesses financeiros, egoísmo, um mecanismo de defesa contra ideias ou factos incómodos[93][94] a vontade de não reacender velhos conflitos, que poderiam provocar o caos, o orgulho, o nacionalismo, todos desempenham um papel nesse negacionismo e omissão; as ditaduras também não costumam permitir análises históricas isentas. Durante a ditadura salazarista, a escravatura não era tema; mesmo após o 25 de Abril de 1974, é abordada por alto nos manuais escolares.[95][96][97]

Em Agosto de 2018, no Qatar, a Al Jazeera amputou a série documental Rotas da Escravatura, um série europeia conjunta do canal francês Arte, RTP e LX Filmes. Todo o primeiro episódio, que versava sobre "o processo que levou o Império Muçulmano a tecer de forma duradoura uma imensa rede de tráfico de escravos pela África, Médio Oriente e Ásia" foi eliminado. Em troca, a rede de televisão afirmou que a escravatura em África foi uma prática fundada pelos portugueses.[98][99]

Referências
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Ligações externas

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