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História da Mitologia/XXIV

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Orfeu e Eurídice
gravura de Federico Cervelli (1625-1700)

Orfeu era filho de Apolo e da musa Calíope. Seu pai lhe deu como presente uma Lira) e o ensinou a tocá-la, o que ele fazia com tanta perfeição, que nada podia resistir à magia da sua música. Não apenas os seus amigos mortais, mas, também os animais selvagens se tornavam mais afáveis ao toque de suas cordas, e ficavam ao redor dele, agrupados por seus graus de ferocidade, e pareciam encantados com a maneira como ele tocava. Mais que isso, as próprias árvores e rochedos ficavam sensibilizados com tanta magia. As primeiras ficavam ao redor dele e os últimos relaxavam de certo modo a própria dureza, suavizada pelas suas notas musicais.

Himeneu havia sido chamado para abençoar, com sua presença, as núpcias de Orfeu com Eurídice; mas, apesar de ter comparecido, não era portador de felizes presságios. A sua própria tocha exalava fumaça, fazendo os olhos lacrimejarem. Coincidentemente com tais prognósticos, Eurídice, pouco depois de seu casamento, enquanto passeava com as ninfas, suas companheiras, foi vista pelo pastor Aristeu, que ficou encantado com a beleza da ninfa, jogando seus encantos em cima dela. Ela fugiu, e ao fugir pisou numa serpente que estava na relva, e foi mordida no pé, morrendo em seguida. Orfeu cantou a sua dor para todos os que respiravam o ar superior, tanto deuses como homens, e não conseguindo bons resultados, decidiu procurar a sua esposa no reino dos mortos. Ele desceu através de uma caverna situada ao lado do promontório de Tenaro[1] chegando ao reino da Estige. Ele atravessou uma multidão de fantasmas e se apresentou diante do trono de Plutão e Proserpina.

Acompanhando o texto da música com os acordes da lira, ele cantou, "Oh divindades do submundo, para quem, todos nós que vivemos, teremos de nos submeter, ouve minhas palavras, pois que elas são sinceras. Não vim até aqui para espionar os segredos do Tártaro, nem medir minhas forças contra Cérbero, o cão de três cabeças, e cabelos enrolados, que protege a entrada deste lugar. Vim aqui para procurar a minha esposa, cujos anos juvenis foram reduzidos a um fim prematuro pelas presas de uma víbora venenosa. O amor me trouxe até este lugar, o Amor, deus todo poderoso que habita na terra conosco, e, se as velhas tradições são portadoras da verdade, não deixará de habitar também estas paragens. Eu vos imploro, por estas moradas cheias de terror, estes reinos do silêncio e das coisas que não foram criadas, para unir novamente os fios de vida da minha Eurídice. Nossos destinos convergem para vós e mais cedo ou mais tarde deveremos atravessar vossos domínios. Ela também, quando tiver cumprido todos os termos de sua vida, também vos pertencerá. Mas até la, concede-a a mim, vos imploro. Caso isso me seja negado, não poderei voltar sozinho e vós triunfareis com a morte de dois jovens."

Orfeu diante de Plutão e Perséfone
gravura de François Perrier (1594–1649)

Enquanto ele exalava sua alma com estas vibrações de ternura, os próprios fantasmas começaram a derramar lágrimas. Tântalo, apesar da sede que sentia, parou por alguns instantes em sua ânsia por obter água, a roda de Íxion cessou seus movimentos, o abutre deixou de rasgar o fígado do gigante, as filhas de Dánao descansaram da tarefa que tinham de carregar água numa peneira, e Sísifo sentou-se numa pedra para escutar. Então, pela primeira vez, disseram, o rosto das Fúrias se encheram de lágrimas. Proserpina não conseguiu resistir, e o próprio Plutão teve de ceder. Eurídice foi então chamada. Ela saiu do meio dos fantasmas recém-chegados, mancando com seu pé ainda ferido. Orfeu teve a permissão de levá-la consigo sob uma condição, a de que ele não deveria olhar para ela até que tivessem alçado a esfera superior.

E com esta condição eles tomaram o caminho de volta, ele conduzia, ela o acompanhava, através de passagens escuras e escarpadas, em total silêncio, até que quase chegaram à saida para o mundo superior e da felicidade, quando Orfeu, num instante de completo olvido, para se assegurar de que ela vinha logo em seguida, deu uma olhada para trás, tendo ela desaparecido instantaneamente. Estendendo os membros para se abraçarem um ao outro, encontraram apenas o ar! Morrendo agora pela segunda vez, ela, contudo, não podia censurar seu marido, pois, como poderia ela censurar a impaciência dele em vê-la? "Adeus," disse ela, "um último adeus," – e sentiu-se afastar, de maneira tão abrupta que o som mal chegou aos ouvidos do amado.

Orfeu desejou segui-la, e implorou permissão para retornar e tentar mais uma vez a libertação da jovem; mas o austero barqueiro o repeliu e lhe negou passagem. Sete dias se demorou ele às margens do rio, sem comer nem dormir; então, acusando amargamente a crueldade dos poderes de Érebo, cantou sua dor para as rochas e montanhas, derretendo o coração dos tigres e alterando a estação de florada dos carvalhos. Manteve-se afastado do sexo feminino, habitando constantemente na lembrança de seu triste infortúnio.

As donzelas da Trácia fizeram de tudo para conquistá-lo, mas ele rejeitava suas investidas. Foram tolerantes com ele o máximo que puderam; mas, percebendo-lhe a insensibilidade, um dia, uma delas exclamou, excitada com os rituais de Baco, "Eis que ali se encontra aquele que nos despreza!" lançando o dardo sobre ele. A arma, mal tendo alcançado os acordes de sua lira, caiu aos seus pés sem feri-lo. O mesmo aconteceu com as pedras que lhe foram atiradas. As mulheres porém, começaram a gritar, abafando com seus gritos o som da música, e então, os projéteis atingiram o seu corpo que em pouco tempo ficou manchado de sangue.

As mulheres enlouquecidas arrancaram-lhe todos os membros, e atiraram sua cabeça e sua lira para dentro do rio Hebro, que ficaram flutuando, e murmuravam uma triste canção, que ecoavam pelas costas litorâneas como uma triste sinfonia. As Musas pegaram os fragmentos do seu corpo e os sepultaram em Libetros[2], onde dizem que o rouxinol canta sobre sua sepultura mais docemente do que em qualquer outra parte da Grécia. Sua lira foi colocada por Júpiter entre as estrelas. Sua sombra passou pela segunda vez no Tártaro, onde ele procurava sua Eurídice e a aconchegou em seus braços ardentes. Passeavam juntos e felizes pelos campos agora, algumas vezes ele ia na frente, outra vezes ela; e Orfeu não se cansava de olhar para ela, sem que isso viesse a representar uma punição por causa de um olhar imprudente.

A história de Orfeu forneceu a Pope (1688-1744) uma ilustração sobre o poder da música, em sua "Ode para o dia de Santa Cecilia". Os versos seguintes relatam a conclusão da história:

"Porém, não demora muito e o amado decide olhar;
E novamente ela se sente defalecer e morre!
Como, agora, irás convencer as irmãs da fatalidade[3]?
Nenhum crime cometeste, caso amar não seja crime.
E agora sob as montanhas suspensas,
Junto às cascatas das fontes,
Ou por onde o Hebro decide o seu curso,
Rolando entre os meandros,
E sem ninguém,
Ele solta um gemido,
E chama pelo espírito da amada,
Que para sempre se perdeu!

Agora, cercado pelas fúrias,
Desesperado e confuso,
Tremula e cintila,
Entre as neves do Ródope
Vejam, foge selvagem como uma tempestade de vento sobre o deserto;
Ouçam! Hemo[4] ressoa com os gritos dos Bacanais;
Ah, vejam, ele está morrendo!
E mesmo na morte ele canta para a amada Eurídice,
Eurídice que ressurge trêmula em sua canção:
Eurídice das matas
Eurídice das inundações
Eurídice que ressoa sobre os rochedos e no vazio das montanhas"

O encanto da melodia na canção do rouxinol sobre a sepultura de Orfeu é mencionada por Southey (1774-1843) em seu poema "Thalaba":

"Então, em seus ouvidos
Ecoam os doces acordes da harmonia
A música distante e uma canção jovial ao longe
Vindo dos caramanchões de um folguedo,
O som de uma cascata ao longe,
O farfalhar de folhas dos bosques frondosos;
O rouxinol solitário
Pousa sobre uma roseira, com mil tonalidades,

Que jamais esse pássaro canoro
Cantou uma canção de amor para sua própria companheira,
O pastor da Trácia, perto da sepultura de Orfeu
Ouviu uma doce melodia,
Embora ali o espírito sepulcral
Instila todo seu poder,
Até inflar todo o incenso do seu amor."

Aristeu
escultura de François-Joseph Bosio (1768–1845)

O homem se vale dos esforços dos animais inferiores para seu proveito próprio. Daí surgiu a arte de criar abelhas. O mel deve ter sido, a princípio, descoberto como um produto natural, as abelhas faziam suas construções no buraco das árvores ou nos espaços entre as rochas, ou em cavidades similares oferecidas pela natureza. Desse modo, ocasionalmente, a carcaça de um animal morto poderia ser utilizada pelas abelhas para esse propósito. E foi sem dúvida, de um incidente como esse, que a superstição engendendrou a lenda, de que as abelhas tinham sido criadas a partir da carne em decomposição dos animais; e Virgílio, na história seguinte, mostra como a ideia deste fato pode ter-se transformado em história para renovação da colméia quando o seu desaparecimento for por motivo de doença ou acidental:

Aristeu, que foi o primeiro a ensinar o manejo com as abelhas, era filho de Cirene, a ninfa das águas. Suas abelhas haviam morrido, e ele foi pedir ajuda de sua mãe. Estando ele na beira do rio, assim se dirigiu a ela: "Oh mãe, o orgulho da minha vida me foi tomado! Perdi minhas preciosas abelhas. Todo meu cuidado e minha habilidade de nada valeram, e tu, minha mãe, não afastaste de mim este golpe do infortúnio." Sua mãe ouvia-lhe as queixas sentada em seu palácio no fundo do rio, tendo ao redor, as ninfas, suas criadas.

Elas estavam ocupadas com os afazeres femininos, fiando e tecendo, enquanto que uma das criadas contava histórias para divertir as demais. A voz entristecida de Aristeu interrompeu-lhes a ocupação, e uma delas colocou a cabeça para fora da água para vê-lo, e retornando, deu a informação à sua mãe, que ordenou para que o trouxessem diante dela. O rio, ao comando da ninfa abriu uma passagem, permitindo-lhe a entrada, ao mesmo tempo que permanecia encaracolado como uma montanha de ambos os lados. Ele desceu até a região onde jazem as nascentes dos grandes rios; observou os enormes receptáculos de água e quase ficou surdo com o bramido das águas, enquanto ele as examinava correndo em várias direções para molhar a face da terra.

Ao chegar no salão onde sua mãe estava, foi gentilmente recebido por Cirene e suas ninfas, sentadas à mesa onde havia as mais finas iguarias. Primeiro, elas fizeram libações a Netuno, depois, se deliciaram com a festa, e em seguida Cirene desta maneira se dirigiu a ele: "Há um velho profeta chamado Proteu, cuja morada fica no mar e é o favorito de Netuno, cujo rebanho de bois-marinhos está sob os seus cuidados. Nós, as ninfas, temos muita consideração por ele, pois que ele é um homem sábio e conhece todas as coisas, o passado, o presente e o futuro. Ele poderá lhe dizer, meu filho, a causa da mortalidade das tuas abelhas, e a maneira de contornar esse problema. Porém, ele não fará isso voluntariamente, terás de convencê-lo.

Terás de obrigá-lo pela força. Se o prenderes sob correntes, ele responderá a todas as tuas indagações a fim de que seja libertado, pois ele não conseguirá se libertar se prenderes bem as correntes, mesmo que utilize todas as suas artimanhas. Eu o levarei até a caverna do pastor, onde ele chega ao meio-dia para o repouso da tarde. Então, você facilmente poderá prendê-lo.

Mas quando ele estiver aprisionado, seu recurso será um poder que ele tem de assumir inúmeras formas. Ele irá se transformar num javali selvagem ou num tigre feroz, num dragão com grossas escamas ou num leão de juba amarela. Ou ele produzirá ruídos como o crepitar das chamas ou o murmúrio das águas, até que você tente soltar as correntes, quando então, ele tentará sua fuga. Portanto, tudo o que terás a fazer será mantê-lo bem preso, e finalmente, quando ele perceber que todos os seus recursos não deram resultado, ele retomará a sua forma de pastor novamente e obedecerá a todas as suas ordens." E assim dizendo, ela borrifou um néctar perfumado sobre o filho, que era um licor dos deuses, e imediatamente, uma força incomum tomou conta do seu corpo, e animou-lhe o coração, enquanto o perfume exalava em toda sua volta.

A ninfa então, conduziu o filho até a caverna do profeta e o ocultou nos vãos entre os rochedos, enquanto ela procurou um refúgio atrás das nuvens. Quando deu meio-dia, a hora em que homens e rebanhos se retiram do sol ofuscante em busca de um sono tranquilo, Proteu ressurgiu das águas, seguido pelo seu rebanho de bezerros-marinhos os quais se deitaram ao longo da costa. Ele se sentou numa pedra e contava o seu rebanho; em seguida, ele se deitou no chão da caverna e adormeceu. Aristeu mal permitiu que ele pegasse no sono, acorrentando-o imediatamente, e gritando em voz alta. Proteu, acordando e vendo-se aprisionado, começo a fazer uso de seus artifícios, transformando-se primeiro em fogo, e depois numa inundação, em seguida num horrível animal selvagem, em rápidas sucessões.

Mas percebendo de que nada adiantava, ele finalmente reassumiu sua forma de pastor e se dirigiu ao jovem nos estertores da raiva: "Quem és tu, jovem ousado, que dessa maneira invade os meus rincões, e o que queres de mim?" Aristeu respondeu, "Proteu, já sabes de tudo, pois que de nada adiante tentar te iludir. E também cessai teus esforços na tentativa de me enganar. Aqui cheguei sob divina assistência, para conhecer a causa do meu infortúnio e uma maneira de resolver esse problema." Diante dessas palavras, o profeta, fixando neles seus olhos cinzentos e penetrantes, assim falou: "Você recebeu a merecida recompensa pelos teus atos, que resultaram na morte de Eurídice, pois ao fugir de ti, ela pisou numa serpente, cuja picada infringiu-lhe a morte."

"Para vingar-lhe a morte, as ninfas, suas companheiras, enviaram esta maldição para as tuas abelhas. É preciso que você abrande o ódio das ninfas, e é preciso que assim seja feito: Escolha quatro touros, com perfeição na forma e no tamanho, e quatro vacas de igual formosura, construa quatro altares para as ninfas, e sacrifique os animais, deixando suas carcaças no bosque frondoso."

"A Orfeu e Eurídice você deverá oferecer honras fúnebres até que o ressentimento deles desapareça. Após nove dias você deverá retornar, e examinar os corpos dos gados que foram mortos e ver o que irá acontecer." Aristeu obedeceu fielmente a todas estas determinações. Sacrificou o gado, deixou seus corpos na floresta, e homenageou com honras fúnebres as sombras de Orfeu e Eurídice; depois, retornou no nono dia e examinou os corpos dos animais, e, — que maravilha poder contar isto! — um enxame de abelhas havia invadido uma das carcaças e estavam executando o trabalho que costumam fazer numa colmeia.

No poema "A Tarefa" Cowper (1731-1800) se refere à história de Aristeu, ao falar do palácio de gelo construído pela imperatriz Ana da Rússia. Nesse poema ele descreve as formas fantásticas que o gelo assume associado às quedas dágua, etc.:

"Menos merecedora de aplauso, embora mais admirada
Porque a surpresa, sendo obra do homem
Senhora imperial da Rússia vestida de peles,
Tua exuberância mais majestosa e mais poderosa,
Qual maravilha setentrional. Nenhuma floresta foi derrubada
Nos momentos de construção, nenhuma pedreira se desfez de suas reservas
Para enriquecer tuas muralhas; porém talhastes inundações
Criando o teu mármore das ondas vítreas.
E foi nesse palácio que Aristeu conheceu Cirene
Quando contou a história melancólica
Sobre a perda das abelhas para ouvidos maternais."

Milton também parece ter guardado na memória Cirene e seu palco doméstico quando ele nos descreve Sabrina, a ninfa do rio Severn, na Canção do Espírito Guardião em seu poema "Comus":

"Bela Sabrina!
Ouve! Estás sentada
Sob a onda vítrea, fresca e translúcida
Com tranças feitas de lírios emaranhados
Com os cachos soltos de teus cabelos que deslizam qual âmbar;
Ouve, em nome da mais cara honra,
Deusa do lago prateado!
Ouve e protege."

Em seguida veremos renomados poetas e músicos míticos, alguns deles dificilmente poderiam ser considerados inferiores ao próprio Orfeu:

Anfião

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Anfião era filho de Júpiter e Antíope, rainha de Tebas. Junto com Zeto, seu irmão gêmeo, eles foram levados, quando nasceram, ao Monte Citéron, onde cresceram entre os pastores, que desconheciam a origem deles. Mercúrio deu a Anfião uma lira e o ensinou a tocá-la, enquanto que o seu irmão se dedicava a caça e aos cuidados com os rebanhos. Enquanto isso, Antíope, a mãe deles, que fora tratada de maneira cruel por Lico, o rei usurpador de Tebas, e por Dirce, sua esposa, encontrou maneiras de informar seus filhos sobre seus direitos para pedir-lhes ajuda.

Com um bando de pastores, seus companheiros, eles atacaram e mataram Lico, e amarraram Dirce a um touro pelos cabelos de sua cabeça, os quais a arrastaram até a morte. Anfião, tendo se tornado rei de Tebas, mandou construir uma muralha para proteção da cidade. Dizem, que quando ele tocava a sua lira, as pedras se moviam por conta própria até ocuparem seus próprios lugares na muralha. Leiam o poema "Anfião"[5] de Tennyson (1809-1892) onde o poeta brinca com esta história.

Lino foi professor de música de Hércules, mas tendo um dia repreendido seu aluno com muita aspereza, acabou despertando a ira de Hércules, que lhe aplicou um golpe com sua lira, matando o professor.
Foi um antigo bardo da Trácia, o qual, movido pela presunção, desafiou as Musas para um teste de habilidade, e sendo derrotado no desafio, foi por elas privado de sua visão. Milton se refere a ele junto com outros trovadores cegos, quando fala da própria cegueira, "Paraíso Perdido," Livro III., verso 35.
Minerva inventou a flauta, instrumento esse que tocava para entretenimento das divindades celestiais; mas, Cupido, o moleque travesso, tenho ousado rir da carantonha esquisita que a deusa fazia ao tocar, Minerva, indignada, jogou para longe o instrumento, que foi cair na Terra, sendo encontrado por Mársias. Ao tocá-la, conseguiu extrair do instrumentos sons tão arrebatadores, e foi tentado a desafiar o próprio Apolo para um concurso musical. Naturalmente o deus teve melhor desempenho, e puniu Mársias esfolando-o vivo.

Melampo foi o primeiro mortal dotado com poderes proféticos. Diante de sua casa, havia um pé de carvalho onde um ninho de serpente havia se formado. As serpentes velhas foram mortas pelos criados, mas Melampo cuidou dos filhotes pequeninos alimentando-os com cuidado. Um dia quando ele estava dormindo debaixo do carvalho, as serpentes lamberam seus ouvidos com suas línguas. Quando ele acordou, ele ficou surpreso, e descobriu que compreendia o idioma das aves, e de todos os seres rastejantes. Este conhecimento possibilitou que ele fizesse previsões quanto ao futuro, tornando-se ele renomado adivinho. Num certo dia, seus inimigos o prenderam e o mantiveram sob severa vigilância.

Melampo, no silêncio da noite, ouviu os cupins conversando no interior da madeira, e pelo que eles falavam, ele descobriu que a madeira estaria quase toda destruída, e que o teto logo iria desabar. Ele contou isso aos seus captores e exigiu que fosse libertado, alertando-os também. Eles entenderam a advertência, e assim conseguiram escapar de serem mortos, e recompensaram Melampo, passando a oferecer a ele grandes homenagens.

Museu foi um personagem semi-mitológico que era representado, segundo uma tradição, como sendo filho de Orfeu. Dizem, ter ele escrito poemas e oráculos sagrados. Milton associa o nome dele com o de Orfeu em seu poema "O Pensador"[6]:

"Mas Oh, triste virgem, que teus poderes
Possam levantar Museu do caramanchão onde se encontra,
Ou fazer com que a alma de Orfeu cante
Notas maravilhosas afinadas para o instrumento,
Arrancando lágrimas de ferro do rosto de Plutão,
E permite que Hades conceda o amor que procura."

Notas e Referências do Tradutor

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  1. O monte Tenaro fica na cidade de mesmo nome no Peloponeso, Grécia.
  2. Libetros ou Limetra, cidade perto do Monte Olimpo, na Grécia, onde Orfeu foi enterrado pelas nifas.
  3. As Parcas.
  4. Hemo, rei da Trácia, filho de Bóreas.
  5. ((en)) Anfião
  6. Originalmente, Il Penseroso.